Há 65 anos, era finalizado para filmagem a obra-prima assinada por Julius J. Epstein, Philip G. Epstein e Howard Koch. A qualidade fundamental da obra, que pode ser lida como libelo político, filme romântico ou épico pessoal, é o que faz ela sobreviver com o mesmo vigor até hoje.
Casablanca (Michael Curtis, EUA/França/Alemanha, 1942) foi eleito o melhor roteiro pelo Instituto Americano de Cinema e ocupa essa posição até hoje seguido por The Godfather (O Poderoso Chefão, 1972).
O filme conta a história de um microcosmos formado pela situação criada pela Alemanha nazista no norte da África. Na cidade de Casablanca, no então protetorado francês do Marrocos, muitos refugiados da Europa esperavam permissões para voar até Portugal e dali partir para a "Terra Prometida", que eram os Estados Unidos.
Nesse ambiente político, o roteiro usa as nacionalidades dos personagens para fazer a sua crítica e construir o ambiente. Os refuagiados ali são todos da Europa Central, contrários ao regime nacional-socialista de Berlim; os franceses aparecem como personagens ambivalentes, cúmplices dos alemães, mas não inteiramente alinhados com esses; os vilões são os alemães e os italianos.
Humphrey Bogart vive Rick, um ex-combatente da Guerra Civil Espanhola que virou um cínico dono de boate. Durante o filme, ele evolui de uma indiferença à situação de caos reinante até uma implicação total no conflito. Essa evolução é uma alegoria ao papel que os Estados Unidos deviam ter na Segunda Guerra Mundial, se abandonasse o isolamento.
Casablanca era para ser originalmente uma peça de teatro. Mas em 8 de dezembro de 1941, dia seguinte ao ataque japonês a Pearl Harbor, os roteiristas mandaram uma primeira versão para cinema para os estúdios Warner. Como a procura por filmes patrióticos estava grande, foi logo aceito.
O informe elaborado pelo governo americano sobre o projeto de Casablanca afirmava, entre outras coisas, que: "o filme pode nos ajudar a ganhar a guerra, pois mostra os Estados Unidos como um refúgio para os oprimidos"; "mostra que o desejo pessoal deve ser subordinado ao objetivo de derrotar o fascismo"; e, "Rick é um personagem que lutou com as forças leais na Espanha, o que ajudará o público norte-americano a entender que a nossa luta não teve início em Pearl Harbor".
É estimado que mais de 2 mil filmes com aspectos mais ou menos propagandísticos foram realizados nos anos de guerra. Mas Casablanca é único por não ser propriamente uma história de guerra nem de espionagem e possuir diversas qualidades ímpares na fotografia e nos diálogos, em especial.
Um dos pontos mais incríveis de Casablanca é a qualidade dos personagens secundários, geralmente elementos mais rasos dentro de um roteiro. Nesse filme, eles são fundamentais. E essa qualidade se deve às interpretações. Muitos dos atores secundários eram alemães ou com origem em países ocupados pelo Terceiro Reich, que havia fugido por serem judeos, homossexuais, contrários ao regime, ou combinações entre essas causas.
Alguns tiveram que fazer papéis de nazistas como Conrad Veidt, que faz o major Strasser.
No meio de todo esse quadro político, os irmãos Julius e Philip Epstein carregaram a mão mais no triângulo amoroso formado por Rick, por sua amante Ilsa (Ingrid Bergman) e pelo marido dela e líder da resistência na Tchecoslováquia, Victor Lazslo (Paul Henreid). E é dessa história de amor que se alimenta a fama do filme até os dias de hoje. Afinal, como escreveu o crítico Apollo Guide, Casablanca é um filme para todos aqueles que perderam um amor".
segunda-feira, 26 de novembro de 2007
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3 comentários:
Não, Tiago, não é o melhor roteiro de Hollywood, mas é com certeza o mais importante. E a cena da marselhesa é uma das melhores do cinema de (propaganda de) guerra norte americano.
Qual é o melhor roteiro na tua opinião?
Ah, é difícil.
Depende do critério. Por gosto pessoal, por importância (aí entraria o Casablanca), por ser tipicamente americano.
Entre muitos, podemos citar:
O Poderoso Chefão, O Franco Atirador, Crimes e Pecados, Scarface (de 1932), No Tempo das Diligências, Rastros de Sangue, Jejum de Amor;
Além de vários do Billy Wilder, entre os quais:
Pacto de Sangue, Quanto Mais Quente Melhor e Testemunha de Acusação, meu roteiro norte-americano favorito.
Mas no “overall”, o melhor é provavelmente A Malvada.
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