quarta-feira, 28 de novembro de 2007
Primeiro Kurosawa legítimo aparece em DVD
Yoidore Tenshi (Drunken Angel, Akira Kurosawa, Japão, 1948) não é o primeiro filme de Akira Kurosawa, mas certamente foi o primeiro a levar para as telas aquilo que ficou característico na obra do cineasta japonês: grande fotografia, ótimas atuações e uma ambientação com diversas referências mitológicas e autobiográficas.
Não por acaso, é também a primeira colaboração entre Kurosawa e o ator Toshirô Mifune, que seria repetida em outras obras-primas como Os Sete Samurais e Yojimbo.
Mifune foi um ator de maneirismos e de personalidade única nas suas interpretações. Sempre dando a seus personagens temperamentos fortes e físicos, nesse filme, ainda jovem, ele já mostrava o que poderia fazer nas películas posteriores.
Aqui, Mifune interpreta um jovem magrinho que ingressa na Yakuza (a máfia japonesa). O ambiente do filme -- e por isso é um Kurosawa característico -- é um favela que tem bem no seu centro um simbólico lago de águas pútridas. Esse mafioso, depois de uma luta, vai até um médico alcoólatra, interpretado por Takashi Shimura, que diagnostica um avançado estado de tuberculose, que precisa ser tratado imediatamente. Algo a que o personagem de Mifune se recusa a fazer. Os dois personagens têm uma relação de pai e filho que percorrerá quase toda a obra do diretor.
Nesse filme, Kurosawa mistura dois gêneros bem característicos: o filme noir, que estava em moda na mesma época em Hollywood, com seus ambientes claustrofóbicos e sombrios; e os dramas urbanos de crítica social, que haviam ocupado a indústria norte-americana duas décadas antes, em que reformas sociais e políticas são declaradamente pedidas pelo diretor ativista.
Esse filme está agora disponível para o grande público em DVD da Criterion Collection.
Preste atenção na cena de grande plasticidade em que o personagem de Mifune e o seu ex-patrão mafioso lutam com facas e acabam caindo em uma piscina de tinta branca.
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Um comentário:
Eleé meu diretor favorito, especialmente os filmes com o Mifune. Se ainda não viu, recomendo Céu e Inferno, o mais americano dos filmes de Kurosawa.
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