sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

The Unforeseen (Laura Dunn, EUA, 2007)

Em outubro de 2002, um empreiteiro do Texas chamado Gary Bradley mandou um e-mail para o jornal The Austin Chronicle escrevendo que tudo que ele realmente gostaria de fazer era um filme. É duvidoso que o documentário The Unforeseen, no qual ele interpreta um dos vilões do filme, fosse o que ele tivesse em mente.

O sr. Bradley enviou o e-mail para o jornal da capital do Texas logo depois de ter declarado falência. A história dele está contada entre outras em The Unforeseen, um filme com uma grande temática, ou melhor diversas grandes temáticas. Entre elas: os direitos humanos, a degradação da natureza, das águas subterrâneas, do ar e toda essa falação tipicamente ecologista. Ele é sem dúvida um filme com uma temática política, principalmente por que um grupo ambiental chamado Earth First! aparece incansavelmente na tema.

Basicamente o filme usa uma história regional premimente para tratar de um problema com implicações globais. Em outras palavras, é uma história sobre verdades inconvenientes e da luta justa de heróis contra pessoas realmente más. Um tanto maniqueísta e com verdades prontas, mesmo para quem, como eu, acredita no respeito ao meio ambiente.

A diretora do documentário é Laura Dunn, que já fez o também ecológico Green. Em The Unforeseen, ela deixa o empreiteiro texano falar abertamente sobre a vida dele. No início dos anos 1980, ele deu início a um enorme empreedimento na região sudoeste de Austin, chamado Rancho do Círculo C. As crises de empréstimos do final daquela década jogou pó sobre os planos dele. Para salvá-lo da quebra, uma multinacional da mineração chamada Freeport-McMoRan entrou no projeto e injetou dinheiro grosso, aumentando o Círculo C e criando um outro empreendimento que avançava sobre o cinturão verde que existia ao redor de Austin.

Habitat de um tipo de salamandra ameaçada de extinção, o cinturão verde tem um rio chamado Barton Creek que corre para um aqüífero que fornece água potável para Austin. O projeto da Freeport -- e os milhões de dólares que as obras de construção dela financiadas om dinheiro público -- teria aterrado o rio com dejetos e toneladas de lixo matando milhares de animais.

Os moradores de Austin, sabendo que tudo que vai para a água acaba voltando para eles, tiveram uma outra idéia. O que acontece no filme é uma refrega que põe de um lado ambientalistas, cidadãos preocupadas e a prefeitura de Austin e do outro empreiteiros, interesses comerciais, lobistas, deputados e o então governador do Texas, George W. Bush.

É um cenário tenebroso: grandes negócios contra gente pequena, natureza contra cultura, civilização e seus discontentes. Trabalhando com o câmera Lee Daniel, Dunn consegue harmonizar uma quantidade enorme de personagens e histórias com uma igualmente profusa quantidade de quadros, gráficos, noticiários, fotografias antigas e seqüências de incrível beleza plástica.

O grande pecado do filme é que todo esse material parece estar comprimido demais nos seus 93 minutos. Tudo soa como se ocupasse menos espaço do que deveria. Ou desse menos tempo do que se precisa para entender e digerir as histórias e implicações. Outro problema é Robert Redford, que é um dos produtores-executivos do documentário. Ele aparece muito no filme e tira, com sua presença, o impacto da mensagem.

O outro produtor-executivo é Terrence Malick, natural de Austin.

Preste atenção: nas lindas tomadas aéreas assinadas por Lee Daniel.

Não mudo uma linha

Depois da premiação de Tropa de Elite, em Berlim, fui perguntado se não mudaria minha opinião sobre o filme de José Padilha. Sigo concordando com o diretor que o filme não tem nada de fascista, na sua ideologia. Mas é, sem dúvida, fascistóide. Tem um formato fascista que inibe qualquer opinião contrária de se fazer presente entre os tiros, gritos e lições de moral brucutu que permeiam a obra.