sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Aniversário da primeira projeção de cinema

No dia 28 de dezembro de 1895, no Salon Indien du Grand Café, em Paris, os irmão Lumière (Auguste Marie Nicolas e Louis Jean) realizaram a primeira projeção pública de filmes.

Na ocasião dez filmes foram projetados, sendo o primeiro La Sortie de l'Usine Lumière à Lyon, considerado o primeiro filme da História. Cada um dos pequenos filmes tinha algo em torno de 46 segundos (17 metros de película). Ao lado, o pôster do evento.

Além dos documentários da vida cotidiana do povo de Lyon e Paris, os Lumière, fizeram a primeira ficção em filme: Le Jardinier (O Jardineiro, ou O Regador Regado).

Os filmes projetados na ocasião foram (em ordem):
  1. La Sortie de l'Usine Lumière à Lyon (46s)
  2. La Voltige (46s)
  3. La Pêche aux Poissons Rouges (42s)
  4. Le Débarquement du Congrès de Photographie à Lyon (48s)
  5. Les Forgerons (49s)
  6. Le Jardinier (49s)
  7. Le Repas (de bébé) (41s)
  8. Le Saut à la Couverture (41s)
  9. La Place des Cordeliers à Lyon (44s)
  10. La Mer (Baignade en mer) (38s)

Na edição abaixo, estão alguns dos filmes projetados no Grand Café e alguns outros feitos pelos Lumière na mesma época, mas que não participaram daquela primeira demonstração, como o famoso L'Arrivée d'un Train en Gare de la Ciotat, que teria provocado pânico na audiência, pois as pessoas acreditaram que poderiam estar correndo perigo de serem atropeladas pelo trem.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

There Will Be Blood (P. T. Anderson, EUA, 2007)

Depois de provar que é um dos melhores diretor em Hollywood com menos de 40 anos com filmes urbanos e contemporâneos como Sydney (1996), Boogie Nights (1997) e Magnolia (1999), Paul Thomas Anderson se lança em um épico para contar uma parte peculiar na história norte-americana: a corrida do petróleo.

Baseado levemente no romance de Upton Sinclair, Oil!, There Will Be Blood conta essa corrida no Sul da Califórnia no final do século XIX. Mas a qualidade do roteiro é incrível quando percebemos, somado ao relato histórico, dezenas de referências bíblicas sobre inveja e ganância. Daniel Day-Lewis interpreta magistralmente Daniel Plainview, um especulador de petróleo que vai furar poços e encarna o próprio estereótipo do monstro capitalista sem escrúpulos que deseja ardentemente enriquecer na "terra das oportunidades". No deserto californiano, não há um Deus benevolente, apenas o óleo negro e a fúria pela riqueza.

A alegoria do filme é sobre o início do Século Americano. E é sobre como essa soberania de riqueza foi construída sobre os ombros de alguns homens que beiraram o fanatismo ao construir suas fortunas diante da vontade e do trabalho.

A parcela íntima do filme é composta pela relação entre Plainview e H.W. (o estreante Dillon Freasier). Surgido misteriosamente como o próprio petróleo do deserto, o garoto terá uma relação filial com Plainview, que chegará próxima de ser carinhosa. Mas detonará também o conflito entre a ganância e a culpa, a cobiça e o pecado, que assombra a trama do filme.

Essa trama de desenrola a partir do momento em que Plainview segue com H.W. para o Sul da Califórnia com o intuito de comprar novas terras para a prospecção de petróleo. As belas cenas de petróleo jorrando dos poços, destruindo as torres de perfuração e inundando a terra de negrume e riqueza trazem também a inquietação para a ignorante população local. Extremamente pobre, esse povo vê em Plainview um salvador. E esse papel será ameaçado quando Eli Sunday (Paul Dano) chega na comunidade para "espalhar a palavra de Deus".

There Will Be Blood sem dúvida é um filme mais interessante para o público norte-americano que vê um dos alicerces da construção de sua nação desmistificados cruamente. Para os brasileiros, é mais um ótimo filme de P. T. Anderson, original e incrivelmente bem realizado.

Esse filme é muito mais linear e pode parecer aos olhos da audiência menos interessante do que os anteriores de Anderson. Mas isso se deve a uma avaliação apressada. Na verdade, Anderson parece estar mais à vontade e podendo abrir mão de um exagero autoral. Todo o filme soa perfeito e bem acabado, lembrando muito Robert Altman, com quem Anderson trabalhou no último filme do grande mestre, A Prairie Home Companion (2006).

Preste atenção na grande atuação de Daniel Day-Lewis, que parece ter se apropriado da alma de Plainview, como fez em Gangs of New York (2002). E na seqüência inicial do filme, cujas imagens no deserto remetem ao começo de 2001: A Space Odyssey (1968), de Stanley Kubrick.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

Estrelas se calam em apoio à greve de roteiristas

Alguns dos melhores atores de Hollywood (e dos mais engajados) participaram de uma das mais criativas formas de protesto usadas até agora pelos roteiristas norte-americanos, em greve por uma melhor participação nos lucros dos estúdios e TVs com a venda de conteúdo na internet e em DVD.

A campanha, batizada de Speechless, tem até agora 28 episódios, que podem ser conferidos na página oficial da greve. Nos vídeos, os atores aparecem encenando situações sem ter roteiros para seguir ou falando em línguas incompreensíveis. Nas mais bonitas aparições, os astros e estrelas simplesmente ficam mudos diante das câmeras.

Abaixo, alguns dos melhores vídeos:







segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

"Estamos todos em perigo", última entrevista de Pier Paolo Pasolini

Essa entrevista aconteceu na tarde do sábado 1o de novembro de 1975, poucas horas antes do assassinato do cineasta italiano Pier Paolo Pasolini. O título foi sugerido pelo próprio Pasolini ao entrevistador Furio Colombo. No final da conversa, Pasolini disse ao entrevistador: “Eis a semente de tudo, o sentido de todas as coisas. Você nunca sabe quem, nesse exato momento, pode estar pensando em matar você. Use isso como título da entrevista, se quiser: ‘Estamos todos em perigo’”.

Pergunta - Pasolini, nos seus artigos você já deu diversas declarações sobre as coisas que detesta. Você já levantou bandeiras solitárias contra tantas coisas: instituições, marcas, pessoas e poder. Para simplificar as coisas, eu vou chamar tudo isso de “situação”, que seria todas as coisas contra as quais você já se bateu. Permita-me propor uma objeção. A “situação”, com todos os males que você vê nela, também tem todos os elementos que fazem Pasolini possível. O que eu quero dizer é que, mesmo com todo o seu talento e mérito, as ferramentas são dadas pela “situação”: publicidade, cinema, organização, mesmo objetos. Façamos de conta que você é mágico. Com um pequeno gesto seu, tudo que você detesta desaparecesse. O que seria de você então? Não ficaria sozinho e sem todas as ferramentas de expressão que necessita?

Pier Paolo Pasolini - Eu entendo. Mas eu não apenas tento alcançar esse estágio de mágica, eu acredito nele. Eu acredito que se possa ficar batendo com um dedo em uma parede até que toda a casa venha abaixo. Podemos ver um pequeno exemplo disso no Partido Radical [partido italiano de extrema esquerda fundado em 1955 e tranformado, em 1989, no Partido Radical Transnacional], um amontado de gente capaz de influenciar todo o país. Você bem sabe que eu não concordo com eles, mas eu estou indo agora mesmo para a conferência deles. Mais do que tudo, é a História que nos dá os melhores exemplos. Contestação tem sempre sido de fundamental importância. Santos, heremitas e intelectuais, os poucos que fizeram História, foram aqueles que disseram “não”, não foram os assistentes dos nobres e dos cardeais. Então, para ser direto, contestação deve ser em grande escala, ampla e total, “absurda” e sem bom senso. Não pode apenas se apresentar sobre esse e aquele ponto. Eichmann tinha muito bom senso. O que faltou para ele então? Ele não disse “não” de forma clara e direta logo no início, quando ele era ainda um mero administrador, um burocrata. Ele devia ter dito para algum dos seus amigos: “Eu não gosto mesmo de Himmler”. Ele devia ter sussurrado alguma coisa, vazado algo como acontece em agências de publicidade, em redações de jornal, no segundo escalão de governos. Mas ele nunca parou a máquina. Então há três pontos a se ver: o que é isso que você chama de “situação”, por que devemos escolher saldar ou destruí-la, e como.

Pergunta - Bem, descreva a “situação”, então. Você sabe muito bem que as suas observações são como o sol brilhando através da poeira do ar. É uma imagem bonita, mas as coisas às vezes são pouco claras.

Pasolini - Eu agradeço pela imagem, mas espero bem menos do que isso. Tudo que eu quero é que você olhe em volta e note a tragédia. Qual é a tragédia? É que não há mais seres humanos; só existem algumas máquinas estranhas que colidem umas com as outras. E nós, intelectuais, olhamos para horários de trens antigos e falamos: “Estranho, não deviam esses trens seguir por esse caminho. Como eles puderam bater desse jeito? Ou o engenheiro ficou louco ou ele é um assassino. Ou, melhor ainda, tudo isso é uma conspiração”. Nós sempre gostamos de teorias da conspiração, porque elas nos aliviam de ter de lidar com a verdade. Não seria maravilhosos se, enquanto nós conversamos aqui, alguém no porão estivesse planejando nos matar? É tão fácil, é tão simples, e é a resistência. Nós podemos perder alguns amigos, mas nós acabaremos juntando as nossas forças e varrendo todos para fora. Um pouco para nós, um pouco para eles, você não acha? E eu sei que quando eles mostram Paris em chamas na TV, todo mundo senta com lágrimas nos olhos, desejando apenas que a História se repita, mas de forma limpa e bonita. O efeito do tempo é que ele lava tudo, deixa tudo limpo, como a chuva sobre as paredes das casas. É simples, eu estou deste lado e você está do outro. Não vamos fazer piadas sobre o sangue e a dor com que as pessoas pagaram para ter opções. Mas vamos admitir que era mais fácil lutar naquela época. Com coragem e consciência, um homem normal sempre poderia rejeitar uma Salò fascista ou uma SS nazista, mesmo que fosse no seu interior (onde todas as revoluções têm início). Mas hoje em dia é diferente. Alguém pode chegar caminhando na sua direção vestido como um amigo, muito gentil e educado, mas ele é na verdade um “colaborador”. A razão diz que ele precisa, antes de tudo, ganhar o seu sustento, e ele não está prejudicando ninguém. Outro, ou outros, os grupos, vem na sua direção agressivamente com suas chantagens ideológicas, suas admoestações, seus sermões e seus anátemas que soam como ameaças. Eles marcham com bandeiras e slogans, mas o que separa-os do “poder”?

Pergunta - Bem, o que é poder na sua opinião? Onde ele está? Como pode-se revelar esse poder?

Pasolini – Poder é um sistema educacional que nos divide entre sujeitos e subjugados. É um sistema educacional que nos forma a todos, desde a assim chamada classe dominante até os mais pobres entre nós. É por isso que todos querem as mesmas coisas e todos agem da mesma forma. Se eu tivesse acesso a um conselho administrativo ou a uma corretora de ações, seria isso que eu usaria. De outra forma, eu uso um porrete. E quando eu uso um porrete, eu vou usá-lo de todas as forma para conseguir o que eu quiser. Por que eu quero isso? Por que eu fui ensinado que é uma virtude ter isso. Eu estou apenas exercitando minhas virtudes. Eu sou um assassino, mas eu sou uma boa pessoa.

Pergunta – Você tem sido acusado de ser incapaz de fazer distinção entre política e ideologia. Tem se dito que você perdeu a habilidade de diferenciar os sinais da enorme diferença que existe entre fascistas e não-fascistas, dentro na nova geração.

Pasolini – Era disso que eu estava falando quando mencionei os horários de trens anteriormente. Você já viu aquelas marionetes que fazem as crianças rir imensamente porque seus corpos ficam virados para um lado enquanto suas cabeças olham para o outro? Bem, é assim que eu vejo essa maravilhosa tropa de intelectuais, sociólogos, expertos e jornalistas com suas nobres intenções. As coisas estão acontecendo, mas as cabeças deles estão viradas para outro lado. Eu não estou dizendo que não haja Fascismo. O que eu estou dizendo é: não fala comigo sobre o mar quando estamos nas montanhas. É uma paisagem diferente. Há um desejo de matar aqui. E esse desejo nos amarra todos juntos como irmãos sinistros da falência de todo o sistema social. Eu também adoraria se fosse fácil separar a ovelha negra. Eu também vejo a ovelha negra. Eu vejo uma porção delas. Eu vejo todas elas. Esse é o problema. É como descer ao Inferno. Mas quando eu volto – se eu volto – eu vejo um monte de outras coisas. Eu não estou pedindo para você acreditar em mim. Eu estou dizendo que vocês estão sempre mudando de assunto para evitar encarar a verdade.

Pergunta – E qual é a verdade?

Pasolini – Me desculpe por ter usado essa palavra. O que eu queria dizer era “evidência”. Deixe-me reordenar as coisas. Primeira tragédia: uma edução única, obrigatória e errada, que nos empurra para uma mesma arena em que temos de ter tudo a todo o custo. Nessa arena nós somos empurrados para uma formação de guerra em que alguns carregam canhões e outros, porretes. Aqui nós a temos a velha máxima de dar razão para os mais fracos. Mas o que eu estou dizendo é que, de alguma forma, todos são fracos, porque todos são vítimas. E todos são culpados, porque todos estão dispostos a jogar esse jogo assassino da possessão. Todos aprendemos a ter, possuir e destruir.

“Estamos todos em perigo” - Parte 2

Pergunta – Deixe-me voltar para a primeira pergunta então. Imaginemos que você pode abolir magicamente todas as coisas. Mas você vive de livros e você precisa que exista gente inteligente para ler… consumidores educados de um produto intelectual. Você é um cineasta e, como tal, você precisa de bastante dinheiro (você é muito bem sucedido e é “consumido” avidamente pelo público), mas você precisa também de técnicos, administradores e de toda uma indústria que está no meio disso tudo. Se você remover tudo isso, com um tipo de paleo-catolicismo e neo-monasticismo chinês, o que sobrará?

Pasolini – Tudo. Eu sou o que sobrará, estando vivo, estando no mundo, um lugar para se contemplar, trabalhar e entender. Há centenas de formas de contar histórias, de ouvir as línguas, de reproduzir dialetos. Outros sobrarão com muito mais. Eles podem manter-se como eu, cultos como eu ou ignorantes como eu. O mundo se torna maior, tudo pertence a nós e não há necessidade do mercado de capitais, do conselho administrativo e do porrete. Você vê, no mundo com o qual sonhamos (permita-me que eu me repita: vendo horários de trens de um ano ou trinta anos atrás), há um patrão malévolo com uma cartola e dólares escorrendo de seus bolsos e uma viúva e seus filhos implorando por caridade, como no lindo mundo de Brecht.

Pergunta – Você está dizendo que sente saudades desse mundo?

Pasolini – Não! Minha nostalgia é pelos pobre que lutaram para derrotar o patrão sem se tornar aquele patrão. Como eles foram excluídos de todo, eles permaneceram descolonizados. Eu tenho medo desses revolucionários que são exatamente como os patrões, igualmente criminosos, que querem tudo a qualquer preço. Essa ostentação materialista torna difícil distingüir a que “lado” cada um pertence. Qualquer um que for levado para uma emergência de hospital quase morrendo vai estar muito provavelmente mais interessado no que o médico possa lhe dizer sobre as suas chances de viver do que no que um policial possa lhe relatar sobre os mecanismos do crime. Tenha certeza que eu não estou condenando as intenções nem estou interessado na cadeia de causas e efeitos: eles antes, ele antes ou quem é o primeiro culpado. Eu acho que nós definimos aquilo que você chamou de “situação”. É como a chuva sobre a cidade e as bocas-de-lobo estão entupidas. A água sobe, mas a água é inocente. Não tem a fúria do mar nem a raiva da correnteza de um rio. Mas, por alguma razão, ela sobe ao invés de descer. É a mesma água de tantos poemas adolescentes e de canções como “Singing in the Rain”. Mas ela sobe a afoga você. Se é onde nós estamos, eu vou dizer para não perdermos tempo colocando etiquetas com nomes aqui e ali. Vamos ver como podemos desentupir os canos antes que todos nos afoguemos.

Pergunta – E para chegar lá você quer todos sendo ignorantes e ovelhas felizes e idiotizadas?

Pasolini – Colocar nesses termos seria absurdo. Mas o sistema educacional como ele é não pode criar outra coisa senão gladiadores desesperados. As massas estão crescendo, assim como o desespero e a raiva. Claro que eu lamento uma revolução pura comandada por gente oprimida cujo principal objetivo é obter a liberdade para coordenar as suas próprias vidas. Claro que eu ainda tento imaginar que algo assim possa ser possível nas histórias italiana e mundial. O melhor dessa visão ainda pode inspirar algum dos meus futuros poemas. Mas não pode inspirar o que eu sei ou o que eu vejo na minha frente. Eu quero dizer isso clara e diretamente: eu desço ao Inferno e eu vejo coisas que não perturbam a paz dos outros. Mas tenha cuidado. O Inferno está se erguendo sobre todos vocês. É verdade que há um sonho de uniformidade e de justificação, mas também é verdade que há um desejo e uma necessidade de contra-atacar, de assaltar, atacar, matar, e é um desejo de atinge muitos. A experiência arriscada e privada daqueles que tocaram na “vida de violência” não vai estar disponível por muito tempo. Não se engane. E você é, juntamente com o sistema educacional, com a televisão, com os seus jornais pacifistas, os grandes mantenedores dessa horrenda ordem fundada no conceito da possessão e na idéia da destruição. Por sorte, você parece ficar feliz quando é capaz de colocar uma etiqueta sobre um cadáver com a descrição de como se deu o assassinato. Isso para mim é apenas mais uma das operações da cultura de massas. Desde que nós não conseguimos prevenir algumas coisas de acontencerem, nós nos contentamos em construir abrigos para mantê-las lá, escondidas.

Pergunta - Mas abolir também significar criar outras coisas, a não ser que você também seja um destruidor. O que deve acontecer com os livros, por exemplo? Eu certamente não quero ser uma dessas pessoas que se angustiam mais pela perda da cultura do que pela perda de outras pessoas. Mas essas pessoas salvas na sua forma de ver as coisas, num mundo diferente, não podem mais ser primitivas (uma acusação geralmente direcionada para você). E se nós não quisermos reprimir os “mais avançados”…

Pasolini - O que me faz tremer de medo.

Pergunta - Se nós não quisermos cair novamente em lugares comuns, deve haver um tipo de solução. Por exemplo, na ficção científica, como no Nazismo, queimar livros é sempre o primeiro passo em direção ao massacre. Uma vez que você tenha fechado as escolas e abolido a televisão, como você daria vida e cultura para o mundo?

Pasolini - Eu acho que eu já considerei esse problema em relação à Moravia. Fechar ou abolir na minha forma de falar quer dizer “mudar”. Mas mudar de uma forma dramática e desesperada como a que a situação requer. O que realmente impede um diálogo com respeito à Moravia, mas ainda mais com relação a Firpo, por exemplo, é que de alguma forma nós não estamos vendo a mesma cena, nós não conhecemos as mesmas pessoas e nós não ouvimos as mesmas vozes. Para você e para eles, as coisas acontecem quando viram notícias, belamente escritas, formatadas, editadas e tituladas. Mas o que está sob a superfície de tudo isso? O que está faltando é um cirurgião que tenha a coragem de examinar o tecido e declarar: cavalheiros, isso é um câncer e não é do tipo benigno. O que é um câncer? É algo que muda todas as células, que faz com que elas crescem de uma forma perniciosa, fora de toda a lógica prevista. Um paciente de câncer sonha com um corpo saudável como o que ele tinha antes. Ele é nostálgico, mesmo que antes ele fosse um estúpido desgraçado. Antes do câncer, quero dizer. Antes de mais nada, ele terá que fazer um baita esforço para voltar à imagem que tinha antes. Eu escuto todos os políticos e as suas pequenas fórmulas e isso me deixa insano. Eles não parecem saber de que país eles estão falando; eles são tão distante da Terra quanto a Lua. E o mesmo cabe dizer dos escritores, sociólogos e expertos de todos os tipos.

Pergunta - Por que você acha que as coisas são mais evidentes para você?

Pasolini - Eu não quero falar mais sobre mim mesmo. Talvez eu já tenha falado demais. Todos sabem que eu já paguei pelas minhas experiências pessoalmente. Mas também existem os meus livros e os meus filmes. Talvez eu esteja errado, mas eu vou seguir dizendo que estamos todos em perigo.

Pergunta - Pasolini, se é assim que você vê a vida, eu não sei se você vai aceitar responder à próxima pergunta: como você espera evitar o risco e o perigo involvidos?

Fica tarde, Pasolini não acende nenhuma luz e começa a ficar difícil tomar notas. Nós olhamos para o que eu havia escrito. Então, ele pede que eu deixe a lista de perguntas restantes com ele.

Pasolini – Existem algumas frases que parecem um pouco absolutas demais. Deixe-me pensar sobre isso, olhar para isso. E deixe eu bolar uma resposta memorável. Eu tenho uma coisa na cabeça para a sua pergunta. Eu acho mais fácil escrever do que falar. Eu vou passar para você as minhas anotações amanhã de manhã.

No dia seguinte, um domingo, o corpo de Pasolini estava no necrotério da polícia de Roma.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Inland Empire (David Lynch, POL/FRA/EUA, 2006)


O lugar mais estranho e inóspito de Hollywood é a mente de David Lynch. Prova disso é o que esta mente produziu em Inland Empire, traduzido para O Império dos Sonhos. O filme segue com o projeto de Lynch de superar os limites da experiência em cinema para algo a mais do visual e da história. Algo que beire a filosofia aplicada ao conhecimento dos meandros da mente humana explorada através do cinema.

Deve-se ir aos filmes de Lynch disposto a ter a cabeça revirada pelo gênio atrás da câmera. Deve-se permitir que todas as nossas normas de compreensão sejam desarticuladas. É necessário tentar antes de mais nada explorar a própria gramática visual do cineasta com suas nuances de ritmo.

Pois Lynch está filmando como se sonhasse. Assim como quando dormimos, nos filmes dele uma circunstância pode passar em um átimo de segundo ou pode se desmembrar, se repetir e levar dezenas de minutos acontecendo. Nosso exercício é desvendar essa linguagem e nos deleitarmos com a experiência única do filme.

Mais estranho que o próprio filme, totalmente realizado em vídeo, é o ambiente de criação de David Lynch. Ele foi captado durante os dois anos de produção e filmagem de Inland Empire e virou um documentário. Lançado no ano passado, ele ganhou o prêmio de melhor filme digital no Festival de Veneza.

Nas últimas três décadas, Lynch criou uma sólida cinematografia baseada nessa estranheza e nesse desejo de superar o próprio cinema para contar as suas histórias. O bebê deformado de Eraserhead (1977), a deformidade física chegando ao ápice em The Elephant Man (1980), o surrealismo anos 80 de Blue Velvet (1986), o mistério policial em Twin Peaks, e o cume na obra-prima cinematográfica que é Mulholand Dr. (2001).

Inland Empire "conta" (a respeito de Lynch nunca podemos estar totalmente certo disso) a história de uma atriz pornô em final de carreira, Nikki Grace (Laura Dern, em sua terceira parceria com Lynch), que recebe uma estranha visita. Essa vizinha sem nome (vivida por Grace Zabriskie), com um forte sotaque do leste europeu, passa a contar a Nikki o enredo de uma história que dará início à toda a série de "absurdos" e "estranhezas" do filme.

Logo depois da conversa com a estranha vizinha, Nikki é convidada para participar de um novo filme (On High in Blue Tomorrows), a ser dirigido por Kingsley Stewart (Jeremy Irons), e co-estrelado por Devon Berk (Justin Theroux). Um melodrama, esse filme lançará os atores em um triângulo amoroso com a personagem vivida por Julia Ormond. Aos poucos os mundos real e fictício passam a se confundir na cabeça de Nikki. E nós mesmos deixamos de perceber claramente quando observamos algo fantasioso ou real.

Nesse mundo pictórico construído por Lynch para ser habitado pela sua personagem principal, vemos uma série de referências de estilo. Ali, Nikki percorre diversas salas tentando entender a si própria. Cada sala tem uma característica única. Cortinas vermelhas, estampas florais, texturas de parede. Uma mulher polenesa que assiste a uma televisão que só passa estática. Uma outra sala que parece um museu europeu, tamanha a sofisticação da decoração. Todos esses cenários, ricos em suas cargas narrativas são responsáveis pelo sucesso alcançado por Lynch para transmitir as diferentes atmosferas do filme. Mesmo que não entendamos o que se passa na tela, isso deixa de ser importante devido à própria experiência sensorial que começamos a sentir. Esse é o grande barato do filme.

Inland Empire deixa de lado o enredo de um protagonista que evolui dentro de uma história. A série de cenas que soam aleatórias, as situações absurdas e aparentemente incoerentes deixam de ser importantes por elas mesmas. Não há um encadeamento lógico. E é nisso que Lynch se torna genial: ao varar os limites do cinema e deixar que as diversas histórias passem a ter apenas inícios. Podemos imaginar o que aconteceu antes ou o que ocorrerá depois. Ou podemos apenas esquecer. Como os sonhos. E como nos sonhos, ele parece ser estar muito perto da realidade.

Numa entrevista dada durante a produção do fime, Lynch disse que estava filmando sem um roteiro terminado, no que é fácil de acreditar. Como na prática surrealista de escrever automaticamente, o filme soa como se tivesse sido feito aleatoriamente.

Inland Empire não é, por último, um filme para se amar. É um obra-prima para ser admirada. E para tentar decifrar, mesmo que isso possa parecer impossível. O prazer dele pode ser fugidio ou mesmo frustante para a maioria das pessoas (foi para mim nessa primeira vez que o assisti). É um filme que não se dá a uma aproximação muito íntima. Mas assistido com atenção, ele se transforma em algo engraçado e, sem dúvida, uma das experiências estéticas mais interessantes que o cinema já produziu.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

O Sobrevivente (Rescue Dawn, EUA, 2006)

Werner Herzog está sempre nos trazendo alguma coisa de dentro da floresta. Foi assim em suas estranhas parcerias com Klaus Kinski em Aguirre (1972), Fitzcarraldo (1982) e Cobra Verde (1987); ou em seus documentários como The White Diamond (2004) e Grizzly Man (2005).

De volta, novamente das entranhas de uma floresta tropical, o cineasta alemão nos brinda com um intenso filme de guerra. Rescue Dawn, que ganhou o título algo bobo de O Sobrevivente, pode ser conferido nas telas de São Paulo. O filme conta a história real de um piloto da marinha norte-americana, Dieter Dengler, vivido na tela por Christian Bale, que, após uma queda é capturado e preso no Laos, durante a guerra do Vietnã. Ele inicia uma tentativa de escapar que o levará heroicamente ou à liberdade ou à morte. Uma escolha dramática que suscita muitas das obras de Herzog.

A evolução do personagem de Bale é o grande achado da direção de Herzog. Durante o filme, ele passa de um típico militar disciplinado a um fanático que tem como objetivo único conquistar a liberdade, mesmo que para isso, paradoxalmente, ele precise morrer.

A história já tinha sido contada por Herzog em um documentário de 1997, Little Dieter Needs to Fly. Se deixarmos de considerar talvez uma idolatria exagerada aos valores do American-way-of-life, simbolizado pelo piloto-americano-amante-de-beisebol, o filme é uma alegoria incrível ao espírito de liberdade e da esperança que joga o personagem às margens da insanidade -- exatamente como Fitzcarraldo ao carregar um navio por sobre uma montanha no meio da Amazônia.

Essa maravilha cinematográfica, porém, não está livre de falhas. O final é um tanto convencional e melodramático -- algo que espanta em um diretor dado a cruezas como Werner Herzog.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Desejo e Reparação domina lista do Globo de Ouro

A Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood divulgou hoje os títulos que concorrerão ao Globo de Ouro, considerado uma prévia do Oscar. A noite de premiação será em 13 de janeiro do ano que vem e não contará com nenhum representante brasileiro.

O recordista de indicações é o drama de guerra Desejo e Reparação (Atonement, Joe Wright, Inglaterra/França, 2007), baseado no romance de Ian McEwan. O longa concorrerá a melhor filme dramático, melhor atriz (Keira Knightley), melhor ator (James McAvoy), melhor direção, melhor roteiro (Christopher Hampton) e melhor atriz coadjuvante.



Segue a lista de todos os indicados:

Melhor Filme Drama:
O Gângster
Desejo e Reparação
Senhores do Crime
The Great Debaters
Conduta de Risco
Onde os Fracos Não Têm Vez
Sangue Negro

Melhor Filme - Comédia ou Musical
Across The Universe
Jogos do Poder
Hairspray
Juno
Sweeney Todd: O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet

Melhor atriz - Drama
Cate Blanchett por Elizabeth: A Era de Ouro
Julie Christie por Longe Dela
Jodie Foster por Valente
Angelina Jolie por O Preço da Coragem
Keira Knightley por Desejo e Reparação

Melhor ator - Drama
George Clooney por Conduta de Risco
Daniel Day-Lewis por Sangue Negro
James McAvoy por Desejo e Reparação
Viggo Mortensen por Senhores do Crime
Denzel Washington por O Gângster

Melhor atriz - Comédia ou Musical
Amy Adams por Encantada
Nikki Blonsky por Hairspray
Helena Bonham Carter por Sweeney Todd
Marion Cotillard por Piaf - Um Hino ao Amor
Ellen Page por Juno

Melhor ator - Comédia ou Musical
Johnny Depp por Sweeney Todd: O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet
Ryan Gosling por Lars and the Real Girl
Tom Hanks por Jogos do Poder
Philip Seymour Hoffman por The Savages
John C. Reilly por Walk Hard: The Dewey Cox Story

Melhor Ator Coadjuvante
Casey Affleck por O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford
Javier Bardem por Onde os Fracos Não Têm Vez
Philip Seymour Hoffman por Jogos do Poder
John Travolta por Hairspray
Tom Wilkinson por Conduta de Risco

Melhor Atriz Coadjuvante
Cate Blanchett por I'm Not There
Julia Roberts por Jogos do Poder
Saoirse Ronan por Desejo e Reparação
Amy Ryan por Medo da Verdade
Tilda Swinton por Conduta de Risco

Melhor Diretor
Tim Burton por Sweeney Todd: o barbeiro demoníaco da rua Fleet
Ethan e Joel Coen por Onde os Fracos Não Têm Vez
Julian Schnabel por O Escafandro e a Borboleta
Ridley Scott por O Gângster
Joe Wright por Desejo e Reparação

Melhor Roteiro
Christopher Hampton por Desejo e Reparação
Aaron Sorkin por Jogos do Poder
Ronald Harwood por O Escafandro e a Borboleta
Diablo Cody por Juno
Joel e Ethan Coen por Onde os Fracos Não Têm Vez

Melhor Filme em Língua Estrangeira
4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias (Romênia)
O Escafandro e a Borboleta (França, EUA)
O Caçador de Pipas (EUA)
Lust, Caution (Taiwan)
Persepolis (França)

Melhor Filme de Animação
Bee Movie - a história de uma abelha
Ratatouille
Os Simpsons: o filme

Melhor canção
Encantada - "That's How You Know"
Grace Is Gone - "Grace Is Gone"
Into the Wild - "Guaranteed"
O Amor nos Tempos do Cólera - "Despedida"
Walk Hard: The Dewey Cox Story - "Walk Hard"

Melhor Trilha Sonora
Desejo e Reparação - Dario Marianelli
Senhores do Crime - Howard Shore
Grace Is Gone - Clint Eastwood
Into the Wild - Michael Brook
O Caçador de Pipas - Alberto Iglesias

Sala escura (14, 15 e 16 de dezembro)

Não há razões para ficar em casa neste fim de semana. A previsão é de tempo ruim e temos grandes filmes estreando. Sugestões do Cinemais para o fim de semana nos cinemas.

O Sobrevivente (Rescue Dawn, Werner Herzog, EUA, 2006)
Simplesmente imperdível, esse filme conta uma história real que já foi filmada pelo próprio Herzog em forma de documentário. É a história de prisioneiros de guerra americanos no Vietnã, que tentam escapar do cativeiro enquanto seus companheiros não poupam esforços para localizá-los. A direção segura de Herzog permitiu a Christian Bale uma atuação incrível, comparável a sua performance em O Maquinista. Uma alegoria poética ao espírito humano e à crueza estúpida da guerra.

A Vida dos Outros (Das Leben der Anderen, Donnersmarck, ALE, 06)

Ganhador do Oscar de melhor filme em língua estrangeira, esse drama é ambientado em Berlim Oriental no ano de 1984. O capitão Wiesler (Ulrich Muhe) é um dos melhores e mais dedicados funcionários da polícia secreta, a Stasi, que vigia toda a população da porção comunista de Berlim.Wiesler é encarregado de levantar informações contra um dramaturgo, porque o seu superior está interessado na esposa dele. Mas Wiesler nada consegueue desabone o artista. Um filme sobre lealdade, obediência e justeza moral. Preste atenção em como o diretor, mesmo em seu filme de estréia, consegue um equilíbrio perfeito entre o horror da tortura e o cômico de um Estado vigilante.

Novo Mundo (Nuovomondo, Emanuele Crialese, ITA/ALE/FRA, 2006)
Baseado em cartas de imigrantes italianos que viajaram para os Estados Unidos no início do século XX fugindo das carestias da Europa e em busca do sonho de uma vida mais confortável, o filme recebeu seis prêmios no Festival de Veneza (incluindo Revelação e Melhor Filme). O filme conta a história da família Mancuso que deixa a Sicília. Durante a viagem, Salvatore Mancuso se apaixona por uma mulher inglesa. A chegada aos Estados Unidos marca o reinício das lutas da família, agora para permanecer unida. O ator Vincent Schiavelli morreu durante as filmagens do longa.

Onde ver:

  • O Sobrevivente
Cine Lumière, 1 - 14h - 16h30 - 19h - 21h30

Frei Caneca Unibanco Arteplex, 4 - 16h10 - 18h50 - 21h20
0h - sáb.

Multiplex Bristol, 1 - 14h - 16h30 - 19h - 21h30
23h59 - sáb. e dom.

Shopping Anália Franco - UCI, 6 - 13h - 15h35 - 18h10 - 20h45
23h30 - sex. e sáb.

Shopping Center Iguatemi, 1 - 14h - 16h30 - 19h - 21h30

Shopping Jardim Sul - UCI, 3 - 13h - 15h35 - 18h10 - 20h45 - 23h20 - sex. e sáb.

Shopping Market Place - Playarte, 1 - 14h - 16h30 - 19h - 21h30

Shopping Morumbi - Cine Tam, Londres - 14h10 - 16h40 - 19h10 - 21h40
0h - sáb.

Shopping Santa Cruz - Cinemark, 9 - 16h05 - 19h - 21h40
0h20 - sex. e sáb.

  • A Vida dos Outros
Cine IG, 1 - 14h - 16h30 - 19h - 21h30

Espaço Unibanco, 2 - 14h - 16h30 - 19h - 21h30
0h - sáb.

Frei Caneca Unibanco Arteplex, 6 - 13h20 - 16h - 18h40 - 21h20
0h - sáb.

HSBC Belas Artes, Cândido Portinari - 13h30 - 16h - 18h30 - 21h
23h30 - sáb.

Kinoplex Itaim, 2 - 17h50 - 20h40
15h - sáb. e dom.
23h20 - sex. e sáb.

Multiplex Bristol, 7 - 15h45 - 21h15
23h59 - sex. e sáb.

Reserva Cultural de Cinema, 3 - 16h10 - 18h50 - 21h30

Shopping Jardim Sul - UCI, 4 - 14h - sex. e sáb.
21h30 - dom.

Shopping Market Place - Cinemark, 7 - 19h35 - 22h30

Shopping Market Place - Playarte, 3 - 18h15 - 21h

Shopping Villa-Lobos - Cinemark, 2 - 18h - 21h10
0h - sex. e sáb.

  • Novo Mundo
Cine Bombril, 1 - 14h - 16h30 - 19h

Reserva Cultural de Cinema, 2 - 13h20 - 15h55 - 18h35 - 21h10
23h40 - sáb.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

A Vida dos Outros (Das Leben der Anderen, 06)

O filme de estréia do diretor alemão Florian Henckel von Donnersmarck fez muito mais do que ganhar o Oscar de Melhor filme em língua estrangeira. Ele conciliou, em uma história extremamente bem contada, suspense, melancolia, romance e uma crítica cáustica ao Estado policialesco e antiético da Alemanha Oriental comunista. O resultado pode ser conferido nas salas de São Paulo.

Até que ponto um homem correto pode ir no cumprimento de seu deveres? Essa é a questão central do filme que se amplia ao considerarmos o ambiente em que a história se passa. O capitão Gerd Wiesler (Ulrich Muhe) é um dos mais competentes oficiais da Stasi, a polícia secreta do Estado militar da Alemanha Oriental. O rigor visual e narrativo de von Donnersmarck nos leva a essa Alemanha comunista de 1984 (não por acaso o ano orwerlliano do Grande Irmão) para nos mostrar uma porção ainda obscura da História -- uma porção brutal, cruel e amoral fomentada pelo Estado comunista.

Wiesler recebe a missão de espionar Georg Dreyman (Sebastian Koch), um escritor de peças de teatro famoso. Ele consegue conciliar o respeito da comunidade artística e manter os bons favores do governo, realizando boas peças que agradam politicamente as autoridades. Ele vive com sua namorada, Christa-Maria Sieland (Martina Gedeck), sua atriz favorita. Os dois homens, um burocrata que valoriza a disciplina militar acima de tudo e um artista, são contrapontos perfeitos dentro do roteiro.

Wiesler é ordenado a espionar e encontrar provas de deslealdade ao Estado contra Dreyman. Isso porque seu superior, Minister Hempf (Thomas Thieme), quer motivos para destruí-lo devido a uma paixão por Christa-Maria. Durante essa investigação, nada de desabonador surge das gravações coordenadas por Wiesler. Como em The Conversation (Francis Ford Coppola, EUA, 1974), o espião se torna simpático às suas presas.

O desenrolar da trama toma contornos de thriller enquanto o cerco a Dreyman vai se fechando e Wiesler passa a tentar protegê-lo silenciosamente.

Preste atenção na beleza plástica das cenas dirigidas por von Donnersmarck. Ele consegue enquadrar o universo de seus personagens em planos simples e corretos, lembrando alguma coisa de Ettore Scola.

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

O labirinto de "Twin Peaks" sai em DVD

A série cult de televisão criada por Mark Frost e David Lynch finalmente é lançada em DVD. A Paramount Home Video conseguiu editar todo o material de Twin Peaks em uma caixa de luxo. Os 29 episódios que marcaram uma verdadeira revolução em termos de enredo e trama na televisão chegam ao público no formato "Definitive Gold Box Edition". Além dos 29 episódios, os DVDs trazem o piloto original da série e o final alternativo lançado apenas na Europa. Nos Estados Unidos, o box terá preço inicial de US$ 100.

Para quem seguiu apaixonadamente a investigação do agente do FBI Dale Cooper (Kyle MacLachlan), essa reedição é motivo de comemoração. Para os mais jovens que não acompanharam a série, é uma incrível oportunidade de descobrir um dos maiores mistérios da televisão mundial: Quem matou Laura Palmer?

A série se passa na pequena cidade de Twin Peaks, no frio e úmido Estado de Washington, onde uma estudante é assassinada. A investigação do crime leva à descoberta de intensas e surreais situações por parte do cético investigador Cooper. Lynch ainda não havia se deslumbrado com os limites da criação surreal no cinema, de forma que Twin Peaks é acessível para todos os públicos. E uma aula de roteiro de suspense e mistério.

O conteúdo dos DVDs chega totalmente remasterizado, o que valoriza a impecável apresentação fotográfica da série. A atmosfera de suspense é preservada também pelo novo som que aumenta o drama do enredo.

Outro presente dessa edição é o final europeu da série. Por motivos financeiros, Twin Peaks foi encurtado na versão européia e ganhou um final abrupto e totalmente diferente do original. Esse tropeço de percurso pode ser conferido no material agora lançado.

Mais um bônus é o documentário sobre a série com David Lynch contando os bastidores das gravações. Nele ficamos sabendo que, depois do sucesso inicial de Twin Peaks (lançado em abril de 1990 pela ABC), a série conheceu uma segunda temporada de baixa audiência. Segundo Lynch, porque a ABC insistia em que o crime fosse resolvido prematuramente.

Algo do controle inicial da série deve ter sido mesmo tirado dos seus criadores, pois é famoso o fato de que no início Twin Peaks era recheado de pequenos enigmas para serem resolvidos durante a trama: como o corvo que aparecia morto ou o gigante que se materializava e passava alguma pista para Cooper. Isso se perdeu dentro da trama que passou a contar com fórmulas mais simples de enredo: como o concurso de Miss Twin Peaks, que lembra muito uma comédia adolescente.

De qualquer forma, Lynch e Frost revolucionaram a televisão ao levar para uma rede aberta uma trama complexa como as destinadas para o cinema. Sem a revolução de Twin Peaks, as séries adultas talvez nunca pudesse passar das fórmulas de Dallas (drama) ou Cheers (comédia).

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Ainda por uma fatia maior

Para o presidente do sindicato dos roteiristas dos Estados Unidos (Writers Guild of America), Patric Verrone, a greve dos escritores de filmes e programas de televisão, desencadeada há quase dois meses, passou a ser uma luta não mais por dinheiro, mas por respeito.

Os roteiristas, segundo ele, estão tentando recuperar o status que foi perdido quando as grandes empresas tomaram conta da indústria de entretenimento. "Eu acho que se eles pudessem fazer filmes e séries sem nós, eles fariam, e assim tornariam o nosso trabalho cada vez mais mecânico e simples, com baixíssimo custo e sem arte", disse Verrone.

Os roteiristas pararam de trabalhar alegando que os estúdios não repassam ganhos obtidos com filmes e séries vendidos em DVD ou comercializados na internet. Os produtores dizem que os roteiristas estão pedindo uma fatia de um mercado que ainda não se tornou lucrativo e que por isso interrompem as negociações. Veja post anterior.

Com cinco semanas, a paralisação dos roteiristas já parece estar fadada a entrar em 2008 sem uma solução. Já se consideram como fatos dados que as temporadas de séries de sucesso como Two and a Half Men, Brothers and Sisters e Monk serão interrompidas temporariamente. Nos seus lugares, reprises e reality shows devem invadir as televisões dos norte-americanos depois do Ano Novo.

Os produtores consideram que todas as fórmulas de pagamento para os roteiristas sobre produtos de internet foram apresentadas e desconsideradas pela WGA. Segundo os produtores, não há como discutir ideologicamente com os roteiristas.

O que os produtores chamam de ideológico é o desejo dos roteiristas de estabelecer regras claras quanto a algumas questões financeiras: como um tipo de passe para quando projetos mudam de uma compania para outra; a eliminação da proibição para se organizar greves depois de acordos terem sido acertados entre estúdios e alguns roteiristas; e a separação clara em categorias dos roteiristas de TV, reality shows e cinema.

Os executivos de estúdios sabem que conceder essas mudanças de regra, mesmo que sem comprometer financeiramente os contratos, levará a uma mudança radical no poder da indústria do entretenimento.

Mas a principal alteração deve ficar por conta da indústria da televisão, que é muito mais sensível a uma parada como essa. Uma prática extremamente cara, mas comum nos Estados Unidos, é a dos conglomerados de TV produzirem quase metade de uma temporada de uma nova série com recursos próprios. E só depois disso apresentá-la para possíveis anunciantes. Como a indústria lá é muito bem azeitada, a coisa funciona. Mas sem poder produzir material novo, a prática deve ser alterada para alguma coisa mais parecida com o que acontece aqui no Brasil, em que o projeto só é tocado para diante depois do financiamento estar garantido.

O que é certo é que essa greve deve ainda se alongar muito em discussões financeiras e ideológicas.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Florian Henckel von Donnersmarck


Para o ganhador do Oscar de melhor filme em língua estrangeira, Florian Henckel von Donnersmarck, o único modo de se fazer um filme que vai lançar a sua carreira é fazê-lo do seu próprio jeito. Nascido em 2 de maio de 1973, ele passou a infância entre a sua Alemanha natal e os Estados Unidos. Na adolescência, von Donnersmarck foi estudar filosofia na Universidade Oxford, na Inglaterra, e em São Petersburgo, na Rússia.

Depois desse tempo de estudos acadêmicos, ele voltou para a Alemanha e foi trabalhar como professor de direção na Academia de Cinema de Munique. Lá, von Donnersmarck dirigiu e produziu diversos curta-metragens, mas nenhum deles satisfez as suas expectativas criativas. Então em 2001, ele deixou a escola para trabalhar no seu longa-metragem, A Vida dos Outros.

Ambientado nos anos 1980 em Berlim Oriental, o filme conta a história de um agente secreto da Stasi que começa a se envolver emocional e eticamente com um casal que ele deve manter sob vigilância.

Todo o processo de criação do filme, do roteiro até a finalização, levou cinco anos. Finalmente em 2006, o filme foi lançado e recebeu uma tremenda recepção por parte da crítica internacional.

Sala escura (7, 8 e 9 de dezembro)

Sugestões do Cinemais para o fim de semana nos cinemas.

A Vida dos Outros (Das Leben der Anderen, Donnersmarck, ALE, 06)
Ganhador do Oscar de melhor filme em língua estrangeira, esse drama é ambientado em Berlim Oriental no ano de 1984. O capitão Wiesler (Ulrich Muhe) é um dos melhores e mais dedicados funcionários da polícia secreta, a Stasi, que vigia toda a população da porção comunista de Berlim.Wiesler é encarregado de levantar informações contra um dramaturgo, porque o seu superior está interessado na esposa dele. Mas Wiesler nada consegue que desabone o artista. Um filme sobre lealdade, obediência e justeza moral. Preste atenção em como o diretor, mesmo em seu filme de estréia, consegue um equilíbrio perfeito entre o horror da tortura e o cômico de um Estado vigilante.

A Coragem de Amar (Le Courage d'aimer, Claude Leloch, França, 2005)
Do diretor Claude Leloch, que também assina Crimes de Autor, em cartaz em São Paulo, esse filme é o segundo de uma trilogia, que conta histórias entrelaçadas sobre a vida comum em Paris. Vale a pena ser visto pela sensibilidade de Leloch na fotografia plana do filme. Seus personagens soam naturais ao extremo, como se estivéssemos sentados num café assistindo à cena de um mendigo que se diz Deus vociferando do lado de fora.

Bee Movie - A história de uma abelha (Steve Hickner, EUA, 2007)
Mas recente animação feita pela Dreamworks, o filme conta a história de uma abelha que, saída da faculdade, se frustra com as perspectivas da carreira de produtor de mel. Depois de conhecer uma mulher humana, ele decide entrar com um processo contra todo o mundo. Uma ótima comédia sobre as frustrações da vida corporativa e sobre a mania norte-americana de resolver tudo nos tribunais. Uma pena os exibidores ainda pensarem que animação é coisa para crianças. Todas as cópias da pré-estréia são dubladas -- perdemos assim a voz original da abelha, Barry B. Benson, feita por Jerry Seinfeld, que também é um dos roteiristas.


Onde ver:
  • A Vida dos Outros
Cine IG, 1 - 14h - 16h30 - 19h - 21h30

Espaço Unibanco, 2
- 14h - 16h30 - 19h - 21h30
0h - sáb.

Frei Caneca Unibanco Arteplex, 2 - 13h20 - 16h - 18h40 - 21h20
0h - sáb.

HSBC Belas Artes, Cândido Portinari - 13h30 - 16h - 18h30 - 21h
23h30 - sáb.

Kinoplex Itaim, 5 - 15h - 17h50 - 20h40
23h20 - sex. e sáb.

Multiplex Bristol, 6 - 13h - 15h45 - 18h30 - 21h15
23h59 - sex. e sáb.

Reserva Cultural de Cinema, 1 - 16h10 - 18h50 - 21h30
0h - sáb.

Shopping Center Iguatemi, 1 - 13h - 15h45 - 18h30 - 21h15

Shopping Jardim Sul - UCI, 2
- 15h - 17h45 - 20h30
12h15 - sáb. e dom.
23h15 - sex. e sáb.

Shopping Market Place - Cinemark, 8 - 13h25 - 16h20 - 19h25 - 22h25

Shopping Villa-Lobos - Cinemark, 5
- 13h30 - 16h20 - 19h20 - 22h20

  • A Coragem de Amar
Cine Bombril, 2 - 14h - 16h - 20h - 22h

Cine Lumière, 1
- 113h - 15h10 - 17h20 - 19h30 - 21h40

Frei Caneca Unibanco Arteplex, 9
- 15h10 - 17h20 - 19h30 - 21h40
0h - sáb.

  • Bee Movie - A história de uma abelha

Moviecom Boa Vista, 3
- 15h15 sáb. e dom.
dublado

Shopping Anália Franco - UCI, 9 - 15h20 sáb. e dom.
dublado

Shopping Center Norte - Haway, 2 - 16h30 sáb e dom.
dublado

Shopping Interlagos - Cinemark, 10 - 15h05
dublado

Shopping Lar Center - Haway, 2 - 17h sáb. e dom.
dublado

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Lynch quer uma garota com apenas uma perna


Um amigo meu, quando eu estava começando a planejar esse blog, disse que gostaria de ler entrevistas com grandes realizadores do cinema. Algo que ele não encontra na imprensa cultural. Lembrei dele ao assistir ao documentário Lynch (Blackandwhite, EUA, 2007).

O filme desvenda cenas incríveis do trabalho de Lynch durante dois anos em que ele preparou e filmou seu mais recente filme Inland Empire (2006). O universo de Lynch é desvendado em momentos que recriam na realidade a fantasia dos seus filmes. Como na cena em que ele pede para que um assistente arrume "uma garota de 16 anos com apenas uma perna". O assistente não hesita em sair para dar alguns telefones para encontrar uma atriz que se encaixe na descrição.

O filme será um extra maravilhoso quando Inland Empire sair em DVD. No documentário, Lynch surge em seu ambiente natural como diretor e criador, gritando e xingando sua equipe, revendo e aprovando cenas, sentado durante minutos em um mutismo criativo.



Filmado parte em vídeo e parte em Super-8, o documentário não se restringe apenas aos bastidores das filmagens de Inland Empire. No filme, vemos um pouco da história pessoal de Lynch. Ele nasceu na cidade de Missoula, no Estado de Montana, em 1946. Mas esse pouco é bem pouco mesmo. Como eram os pais do cineasta? Como são as relações dele com a sua família? Quem ele ama? Quem ele odeia? Nada disso chega perto de ser respondido.

O que vemos em profusão é a relação de Lynch com os seus assistentes de filmagem. Quase todos eles são jovens e extremamente prestativos na tentativa de satisfazer cada um dos pedidos do gênio que pajeiam. Encontrar um macaco treinado para participar de uma cena, ouvir os relatos de Lynch sobre filmagens de clássicos como Mulholland Dr. (2001) ou Blue Velvet (1986) ou apenas ir correndo atrás de uma adolescente perneta, são as funções que Lynch determina para cada um deles.

O momento em que o documentário cresce é na terceira entrevista longa com Lynch. Nela, o diretor, que soma mais de quarenta anos de carreira, confessa que não tem certeza do que está fazendo no filme Inland Empire. Ele se mostra inseguro sobre a narrativa e o ritmo que está pensando em dar ao filme. Pode soar estranho um dos mestres do cinema atual ser revelado em um momento de fraqueza criativa, de dúvida sobre as suas escolhas estéticas. Mas, no final, é sobre isso que Lynch, o documentário, versa. Sobre a luta incrível do criador contra seus próprios demônios, sua luta intestina pela criação.

O diretor do documentário é mais um mistério à la Lynch. Nos créditos, lê-se apenas "Blackandwhite". Nada mais é possível descobrir sobre ele na internet.

A produção do documentário foi seguida em um blog, que ainda está no ar com alguns detalhes e notas interessantes. Como as anotações em folhas de papel para guiar as entrevistas do diretor com o cineasta.

Em última análise, Lynch é um documentário expositivo, não é em momento algum questionador. Nós vemos uma "biografia autorizada". Nós não temos dúvidas a respeito do cineasta esclarecidas, nós apenas ouvimos mais um história contada por David Lynch.

sexta-feira, 30 de novembro de 2007

O dilema entre livros e filmes

Sou apaixonado, assim como tu, por literatura e cinema. Por isso achei ótimo o artigo a respeito publicado no New York Times, por Rachel Donadio, escritora e editora. A ele:

Chegou a temporada dos concorrentes ao Oscar e os multiplexes estão lotados de adaptações literárias, inclusive as versões dos Irmãos Coen para "No Country for Old Men", de Cormac McCarthy, e de Mike Newell para "Amor no Tempo do Cólera", de Gabriel García Márquez. Ainda para este ano, estão programados os lançamentos de "Atonement", de Ian McEwan, "The Golden Compass", de Philip Pullman e "Persepolis", de Marjane Satrapi.

Escritores de livros têm rumado para o Oeste em busca de fama e fortuna desde os tempos de Hemingway e Fitzgerald e livros têm há muito inspirado filmes. Mas atualmente, algumas editoras estão indo diretamente para a indústria do cinema. No mês passado, HarperCollins, uma divisão da News Corp., anunciou uma parceria com a Sharp Independent para produzir filmes baseados nos livros lançados pela HarperCollins. Ao mesmo tempo, a Random House Inc. se uniu à Focus Features para co-produzir entre dois e três filmes por ano baseados em alguns de seus livros de ficção ou não-ficção. A primeira colaboração desse tipo foi o filme "Reservation Road", em cartaz nos Estados Unidos, dirigido por Terry George e baseado no romance que John Burnham Schwartz lançou em 1998.

Essas parcerias dão às editoras uma participação maior no negócio do que os tradicionais acordos de cessão de direitos, que normalmente dão a elas pouco mais do que publicidade para o lançamento conjunto de livro e filme. Agora, Random House e HarperCollins vão receber uma porção das bilheterias, além de lucros sobre DVDs e transmissão para TV e outras mídias. E os escritores vão ganhar mais poder na escolha de roteiristas, atores e diretores.

Alguns estão preocupados que esta relação cada vez mais íntima entre Hollywood e as editoras possa estar mudando as expectativas de sucesso literário - e mesmo alterando a forma como os escritores encaram o seu trabalho. Atualmente, "muitos escritores acham que seus livros não valem nada a não ser que se transformem em filmes", disse Annie Proulx em junho no Festival Literário de Capri, ao falar sobre a experiência de ter o seu conto "Brokeback Mountain" adaptado para as telas. "Eu acho que as pessoas estão escrevendo livros com um olho voltado para os cinemas", ela disse, uma evolução que ela considera "desinspirante". Mas entrevistas com diversos romancistas que trabalharam com Hollywood sugerem que a situação pode ser mais complicada e que o processo pode não ter apenas lhes dado um salário mais gordo, mas pode ter contribuído com algumas idéias a respeito de como contar suas histórias.

Romancistas e a indústria do cinema não foram sempre tão amigáveis. "Na primeira vez que eu fui a Hollywood, eu tive a sensação de que seria melhor eu não dizer que era um romancista", conta John Sayles, que publicou histórias em The Atlantic Monthly e escreveu o romance "Union Dues", que foi indicado para o National Book Award de 1978 antes de se tornar um roteirista e diretor. Além de dirigir seus próprios roteiros para filmes como "Matewan", "Lone Star" e "Honeydripper", a ser lançado em dezembro, ele escreveu cerca de 40 roteiros para outros diretores. O estúdios, Sayles aprendeu rapidamente, vêem os romancistas como "aqueles caras que reclamam depois do filme estar pronto ou que nos fazem gastar US$ 100 mil para escrever o primeiro rascunho do roteiro antes que a gente passe para um profissional que vai cuidar dele". Muitos romancistas, ele diz, "apenas pegam o dinheiro e fogem ou pegam o dinheiro e reclamam".

Atualmente, afirma Sayles, escrever ficção para ele virou apenas um "hobby", assim como um espaço para experimentação. Um romance permite muitos e diferentes pontos de vista, ele notou, enquanto num filme, há basicamente apenas três: o omnisciente ("a tomada da casa pelo lado de fora à noite"); o do protagonista ("de dentro do closet enquanto a serra elétrica corta a porta"); e do antagonista ("através da máscara de hockey"). E romances podem expandir exatamente onde filmes precisam comprimir. Agora, Sayles está escrevendo um livro que começou como um roteiro - até que ele percebeu que nunca conseguiria juntar o dinheiro necessário para produzir algo que se passa nas Filipinas durante a Guerra Hispano-americana.

Outros romancistas dizem que o trabalho para filmes deu a eles diferentes noções de possibilidades narrativas. Schwartz, que escreveu o roteiro para "Reservation Road", diz que escrever para cinema teve um efeito "desinibidor" sobre a sua ficção, inspirando ele a cortar entre cenas de uma forma "mais agressiva". Michael Ondaatje, cujo romance "The English Patient" se tornou um filme ganhador de Oscar, diz que sua própria experiência em diversos projetos de documentários lhe ensinaram sobre o poder de decisões aparentemente pequenas. "Eu reconheço quanto intrincada e microscópica é a arte de edição", afirma ele. "Você corta algo que é um vigésimo de um frame e você faz uma enorme diferença no andamendo."

Diane Johnson, cujos romances incluem "Le Divorce" e "Le Mariage", diz que o trabalho para escrever roteiros deu a ela uma noção mais forte de estrutura. Stanley Kubrick, que a contratou para escrever o script baseado no romance "The Shining", de Stephen King, era um criador de situações elaboradas. A insistência dele em "criar um estrutura antes de passar para os detalhes de uma cena combinou muito bem com o trabalho de escrever romances", ela disse. "Eu não sei ao certo se ser uma romancista ajuda no trabalho de roteirista", ela acrescenta. "Eu acho que é mais no sentido oposto."

Um contrato para um filme também ajudou a carreira de Tom Perrotta como romancista, mesmo que não do jeito que alguns detratores podem imaginar. Quando seu romance "Election" foi publicado em 1998, ele disse, "eu tive uma porção de críticas afirmando que 'ele escreveu isso para virar um filme'", uma idéia que ele considera "risível". Na verdade, ele havia escrito o livro anos antes, mas ele ficou dentro de uma gaveta até que alguém o colocou em contato com um produtor de cinema, que mostrou os originais para o diretor Alexander Payne, que comprou os direitos para filmar a história, que garantiu então a publicação do livro. Desde então, ele não tem problemas para publicar os seus romances - ou filmá-los. Ele foi o co-roteirista para o filme baseado em seu romance "Little Children" e também foi contratado para escrever a versão em roteiro do seu novo romance "The Abstinence Teacher". "Escrever roteiros", ele diz, "tem o efeito paradoxal de fazer de mim um escritor mais literário, muito mais consciente do que eu posso fazer em um romance e não posso fazer em um roteiro".

Alguns escritores, porém, insistem que ter seus romances transformados em filmes não teve influência nenhuma em seus modos de escrever. "Meu trabalho é bem resistente a ser filmado e se a indústria cinematográfica se preocupar em tentar, está ótimo para mim e indica uma certa fortitude da parte deles", diz Rick Moody, cujo romance "The Ice Storm" foi adaptado por Ang Lee. "Mas eu não penso sobre o cinema quando estou compondo romances ou contos." Mesmo que ele estivesse em contato com o diretor e produtor durante as filmagens, Moody disse que ele tentava seguir o conselho de Hemingway, que ele resume assim: "Dirija até a fronteira da Califórnia, jogue o seu livro sobre a cerca. Quando eles jogarem o dinheiro de volta, você dirige de volta para casa".

Chuck Palahniuk também diz que está feliz apenas em sentar nos fundos da sala enquanto os diretores fazem o trabalho deles. Palahniuk trabalhava como mecânico quando o seu romance de 1996 "Fight Club" foi transformado em filme pelo diretor David Fincher. "Eu apenas larguei meu emprego... por que meu telefone não parava de tocar e não podia mais trabalhar", ele contou em um e-mail. "No dia que 'Fight Club' começou a ser filmado, meu agente me mandou uma dúzia de rosas para a garagem onde eu trabalhava - isso mudou um pouco a forma como os outros mecânicos me olhavam." Em agosto, ele viajou para Nova York para acompanhar Clark Gregg nas filmagens de seu romance "Choke". "É interessante assistir às interpretações", Palahniuk disse. "Além disso, eu como o meu peso em lanches de set e me deleito durante as cenas de nus."

Em um artigo recente para Nextbook.org, Bruce Jay Friedman consolidou o que pode ser a atitude mais saudável em relação à experiência de escrever para livros ou filmes. Ele adorou "The Heartbreak Kid", adaptação feita por Neil Simon e Elaine May em 1972 para o seu conto "A Change of Plan", sobre um homem que se apaixona por outra mulher durante a lua-de-mel. "Existe pouca coisa que eu possa fazer", escreveu Friedman, "além de assistir ao filme, aceitar os elogios por tudo aquilo que for legal e negar qualquer envolvimento naquilo que não for."

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Primeiro Kurosawa legítimo aparece em DVD


Yoidore Tenshi (Drunken Angel, Akira Kurosawa, Japão, 1948) não é o primeiro filme de Akira Kurosawa, mas certamente foi o primeiro a levar para as telas aquilo que ficou característico na obra do cineasta japonês: grande fotografia, ótimas atuações e uma ambientação com diversas referências mitológicas e autobiográficas.

Não por acaso, é também a primeira colaboração entre Kurosawa e o ator Toshirô Mifune, que seria repetida em outras obras-primas como Os Sete Samurais e Yojimbo.

Mifune foi um ator de maneirismos e de personalidade única nas suas interpretações. Sempre dando a seus personagens temperamentos fortes e físicos, nesse filme, ainda jovem, ele já mostrava o que poderia fazer nas películas posteriores.

Aqui, Mifune interpreta um jovem magrinho que ingressa na Yakuza (a máfia japonesa). O ambiente do filme -- e por isso é um Kurosawa característico -- é um favela que tem bem no seu centro um simbólico lago de águas pútridas. Esse mafioso, depois de uma luta, vai até um médico alcoólatra, interpretado por Takashi Shimura, que diagnostica um avançado estado de tuberculose, que precisa ser tratado imediatamente. Algo a que o personagem de Mifune se recusa a fazer. Os dois personagens têm uma relação de pai e filho que percorrerá quase toda a obra do diretor.

Nesse filme, Kurosawa mistura dois gêneros bem característicos: o filme noir, que estava em moda na mesma época em Hollywood, com seus ambientes claustrofóbicos e sombrios; e os dramas urbanos de crítica social, que haviam ocupado a indústria norte-americana duas décadas antes, em que reformas sociais e políticas são declaradamente pedidas pelo diretor ativista.

Esse filme está agora disponível para o grande público em DVD da Criterion Collection.

Preste atenção na cena de grande plasticidade em que o personagem de Mifune e o seu ex-patrão mafioso lutam com facas e acabam caindo em uma piscina de tinta branca.

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

O melhor roteiro de Hollywwod faz 65 anos

Há 65 anos, era finalizado para filmagem a obra-prima assinada por Julius J. Epstein, Philip G. Epstein e Howard Koch. A qualidade fundamental da obra, que pode ser lida como libelo político, filme romântico ou épico pessoal, é o que faz ela sobreviver com o mesmo vigor até hoje.

Casablanca (Michael Curtis, EUA/França/Alemanha, 1942) foi eleito o melhor roteiro pelo Instituto Americano de Cinema e ocupa essa posição até hoje seguido por The Godfather (O Poderoso Chefão, 1972).

O filme conta a história de um microcosmos formado pela situação criada pela Alemanha nazista no norte da África. Na cidade de Casablanca, no então protetorado francês do Marrocos, muitos refugiados da Europa esperavam permissões para voar até Portugal e dali partir para a "Terra Prometida", que eram os Estados Unidos.

Nesse ambiente político, o roteiro usa as nacionalidades dos personagens para fazer a sua crítica e construir o ambiente. Os refuagiados ali são todos da Europa Central, contrários ao regime nacional-socialista de Berlim; os franceses aparecem como personagens ambivalentes, cúmplices dos alemães, mas não inteiramente alinhados com esses; os vilões são os alemães e os italianos.

Humphrey Bogart vive Rick, um ex-combatente da Guerra Civil Espanhola que virou um cínico dono de boate. Durante o filme, ele evolui de uma indiferença à situação de caos reinante até uma implicação total no conflito. Essa evolução é uma alegoria ao papel que os Estados Unidos deviam ter na Segunda Guerra Mundial, se abandonasse o isolamento.

Casablanca era para ser originalmente uma peça de teatro. Mas em 8 de dezembro de 1941, dia seguinte ao ataque japonês a Pearl Harbor, os roteiristas mandaram uma primeira versão para cinema para os estúdios Warner. Como a procura por filmes patrióticos estava grande, foi logo aceito.

O informe elaborado pelo governo americano sobre o projeto de Casablanca afirmava, entre outras coisas, que: "o filme pode nos ajudar a ganhar a guerra, pois mostra os Estados Unidos como um refúgio para os oprimidos"; "mostra que o desejo pessoal deve ser subordinado ao objetivo de derrotar o fascismo"; e, "Rick é um personagem que lutou com as forças leais na Espanha, o que ajudará o público norte-americano a entender que a nossa luta não teve início em Pearl Harbor".

É estimado que mais de 2 mil filmes com aspectos mais ou menos propagandísticos foram realizados nos anos de guerra. Mas Casablanca é único por não ser propriamente uma história de guerra nem de espionagem e possuir diversas qualidades ímpares na fotografia e nos diálogos, em especial.

Um dos pontos mais incríveis de Casablanca é a qualidade dos personagens secundários, geralmente elementos mais rasos dentro de um roteiro. Nesse filme, eles são fundamentais. E essa qualidade se deve às interpretações. Muitos dos atores secundários eram alemães ou com origem em países ocupados pelo Terceiro Reich, que havia fugido por serem judeos, homossexuais, contrários ao regime, ou combinações entre essas causas.

Alguns tiveram que fazer papéis de nazistas como Conrad Veidt, que faz o major Strasser.

No meio de todo esse quadro político, os irmãos Julius e Philip Epstein carregaram a mão mais no triângulo amoroso formado por Rick, por sua amante Ilsa (Ingrid Bergman) e pelo marido dela e líder da resistência na Tchecoslováquia, Victor Lazslo (Paul Henreid). E é dessa história de amor que se alimenta a fama do filme até os dias de hoje. Afinal, como escreveu o crítico Apollo Guide, Casablanca é um filme para todos aqueles que perderam um amor".

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Sala escura (23, 24 e 25 de novembro)

Sugestões do Cinemais para o fim de semana.

Planeta Terror (Planet Terror, Robert Rodríguez, EUA, 2007)
Um acidente com um projeto do governo contamina uma cidade inteira, transformando a população em zumbis. Nesse ambiente de caos, surge um grupo rebelde, formado entre outros por um xerife, uma stripper que não tem a perna direita e o seu ex-namorado. Esse é também o ambiente criado por Robert Rodríguez para exercitar sua criatividade ciber-punk de violência .

Crimes de Autor (Roman de Gare, Claude Lelouch, França, 2007)

Viajando por uma estrada para apresentar o noivo aos pais, uma cabeleireira é abandonada pelo seu ele, que some com o carro, todo o dinheiro a bolsa dela. Mas isso não tira a esperança dela de que ele voltará para encontrá-la. Um homem misterioso que acompanha a história concorda em se passar pelo noivo para evitar a humilhação dela diante dos pais. Em Paris, as rádios falam do desaparecimento de um pedófilo. O filme participou da seleção para o Festival de Cannes de 2007.


A Loja Mágica de Brinquedos (Mr. Magorium's Wonder Emporium, Zach Helm, EUA, 2007)

Muito parecido com o clássico A Fantástica Fábrica de Chocolates, esse filme conversa melhor com crianças ou adultos de espírito lúdico. Dustin Hoffman interpreta o Sr. Magorium de 243 anos de idade, dono da loja de brinquedos que decide se aposentar. Natalie Portman vive a gerente que pode assumir o comando da loja. Uma fábula interessante sobre morte e espírito livre. Vale levar as crianças.



Onde ver:


  • Planeta Terror
Cine Bombril, 2 - 22h

Frei Caneca Unibanco Arteplex, 4
- 17h

Gemini, 1
- 14h30 - 21h

Moviecom Boa Vista, 5
- 21h30
15h - sáb. e dom.

Multiplex Bristol, 3 - 21h05
23h30 - sex. e sáb.

Raposo Shopping, 4
- 19h - 21h30

Shopping Anália Franco - UCI, 5
- 21h30
23h45 - sex. e sáb.

Shopping Jardim Sul - UCI, 5
- 14h45 - 19h15
23h45 - sex. e sáb.

Shopping Leste Aricanduva - Cinemark, 7
- 18h50
23h45 - sex. e sáb.

Shopping Morumbi - Cine Tam, Nova York
- 22h

Shopping SP Market - Cinemark, 11
- 22h20

Shopping Santa Cruz - Cinemark, 4
- 21h30 (exceto sáb.)
0h - sex. e sáb.


  • Crimes de Autor
Cine Bombril, 2 - 14h - 16h

Cine Lumière, 1 - 12h50 - 15h - 17h10 - 19h20 - 21h30

Espaço Unibanco, 2
- 16h - 20h

Frei Caneca Unibanco Arteplex, 7 - 13h - 15h - 19h40 - 21h50

Reserva Cultural de Cinema, 4 - 13h10 - 15h10 - 17h10 - 19h10 - 21h10

Shopping Market Place - Playarte, 3 - 12h50 - 15h - 17h10 - 19h20


  • A Loja Mágica de Brinquedos
Centerplex Lapa, 2 - 16h30 - 18h35 - 20h40
dublado

Cinemark Boulevard Tatuapé, 3 - 13h20 - 15h30 - 17h40 - 19h50 - 22h
0h10 - sex. e sáb.
dublado

Eldorado, 8
- 13h40 - 15h50 - 18h - 20h10 - 22h20
dublado

Frei Caneca Unibanco Arteplex, 6 - 13h - 15h - 17h - 19h

Kinoplex Itaim, 2 - 14h40 - 16h50 - 19h - 21h10
23h10 - sex. e sáb.

Moviecom BoaVista, 2 - 17h10 - 19h15 - 21h10
15h15 - sáb e dom.
dublado

Multiplex Bristol, 4 - 13h20 - 15h20 - 17h20 - 19h20 - 21h20
23h20 - sex. e sáb.

Multiplex Plaza Sul, 2 - 13h10 - 15h10 - 17h10 - 19h10 - 21h10
dublado

Shopping Anália Franco - UCI, 1 - 14h30 - 16h30 - 18h30 - 20h30 - 22h30
12h30 - sáb. e dom.
dublado

Shopping Anália Franco - UCI, 7 - 13h - 15h10 - 17h10 - 19h15 - 21h20
23h25 - sex. e sáb.
dublado

Shopping Butantã, 1 - 13h15 - 15h15 - 17h15 - 19h15 - 21h15
dublado

Shopping Center Iguatemi, 1 - 13h - 15h - 17h - 19h - 21h

Shopping Center Iguatemi - Cinemark, 5 - 13h20 - 15h30 - 17h40 - 20h
dublado

Shopping Center Norte - Cinemark, 1
- 13h25 - 15h35 - 17h45
dublado

Shopping Center Penha - Moviecom, 7
- 17h10 - 19h15 - 21h10
15h - sáb e dom.
dublado

Shopping Central Plaza - Cinemark, 10 - 14h40 - 16h50 - 19h - 21h20
23h35 - sex. e sáb.
dublado

Shopping Continental, 2 - 13h30 - 15h30 - 17h30 - 19h30 - 21h30
dublado

Shopping D, 4 - 13h - 15h10 - 17h20 - 19h30 - 21h40
0h - sex. e sáb.
dublado

Shopping Interlagos - Cinemark, 3 - 14h40 - 17h05 - 19h25 - 21h50
dublado

Shopping Interlagos - Cinemark, 4
- 14h40 - 17h05 - 19h25
dublado

Shopping Jardim Sul - UCI, 9
- 14h05 - 16h10 - 18h15 - 20h50 - 22h25
12h - sáb. e dom.
dublado

Shopping Leste Aricanduva - Cinemark, 6 - 15h45 - 18h - 20h15
dublado

Shopping Leste Aricanduva - Cinemark, 10
- 14h40 - 17h05 - 19h25 - 21h50
0h10 - sex. e sáb.
dublado

Shopping Market Place - Cinemark, 2
- 13h40 - 15h50 - 18h - 20h10 - 22h20
0h30 - sex. e sáb.
dublado

Shopping Metrô Tatuapé - Cinemark, 1 - 13h15 - 15h30 - 17h40 - 20h - 22h10
0h25 - sex. e sáb.
dublado

Shopping Morumbi - Cine Tam, Paris - 13h - 15h - 17h - 19h - 21h
23h - sáb.

Shopping Pátio Higienópolis - Cinemark, 5 - 14h - 16h10 - 18h20 - 20h30
dublado

Shopping SP Market - Cinemark, 3
- 14h40 - 17h05 - 19h25 - 21h50
0h10 - sex. e sáb.
dublado

Shopping Santa Cruz - Cinemark, 10 - 13h10 - 15h30 - 17h50 - 20h10 - 22h20
0h30 - sex. e sáb.
dublado

Shopping Villa-Lobos - Cinemark, 1 - 12h40 - 14h50 - 17h10 - 19h30 - 21h40
23h50 - sex. e sáb.
dublado