sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Sacred Family (Sebastián Lelio, Chile, 2006)


Fraquezas humanas que superam a racionalidade e a imposição do desejo sexual à própria vontade autônoma. Essas são as forças envolvidas nesse maravilhoso filme de estréia do roteirista, e agora diretor, chileno Sebastián Lelio, também conhecido no Chile como Sebastián Campos.

O filme, feito em poucos dias e usando muita improvisação por parte dos atores, é de uma crueza exacerbada que, em diversos momentos da película, chega a beirar o primitivismo. Com fotografia trêmula e claudicante, o filme parece ter sido dirigido por um fotógrafo autista. Mas Gabriel Díaz, o diretor de fotografia é tudo menos desconectado da realidade, isso se prova quando notamos que o uso da câmera é parte interessante da própria estrutura narrativa que é adotada por Lelio.

A dramática câmera da mão e os close-ups quase enjoativos, contam uma história que se passa entre a Sexta-Feira da Paixão e o Domingo de Páscoa. Marco (Néstor Cantillana) é um estudante de arquitetura oprimido pela tentativa de emular a carreira extremamente bem sucedida do pai. Tentando desanuviar a cabeça no feriado de Páscoa, ele vai até a casa de praia dos pais.

Na escolha do cenário, pedregoso, frio, distante e ermo da costa chilena, o diretor cria um ambiente que traduz as angústias do protagonista como feito por Bruce Beresford em "Tender Mercies" (EUA, 1983).

O filme revela seus elementos dramáticos, quando a namorada de Marco, Sofia (Patricia López), vai se encontrar com ele. A mãe de Marco deixa dos dois sozinhos na casa, não sem antes deixar claro que sua opinião pessoal é contrária ao relacionamento. As mães sempre sabem melhor do que ninguém o que é melhor para seus eternos bebês -- a avaliação autobiográfica de Lelio nas entrelinhas de seu filme.

A chegada de Sofia à casa deflagra não só as emoções da mãe em relação ao filho, mas uma afloração de desejos proibidos os não entre os ocupantes da casa. As críticas do pai de Marco ao seu trabalho e as tentativas do filho agradar ao pai. Uma jovem vizinha que é o objeto intruso à casa que desperta a libido proibido dos homens. Dois amigos de Marco que têm obviamente inclinações não-declaradas homossexuais e se liberam durante uma festa de ecstasy (a pior seqüência do filme).

É nessa relação que todo um cabedal de humor negro e de franqueza absoluta em relação às emoções e à sexualidade se expressão nas vidas dos dois namorados e nas pessoas que os rodeiam durante o feriado. Tudo inclusive a "sagrada família", no final, não é tão sagrada assim.

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