terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Indicações para o Oscar 2008

O Brasil ficou de fora mais uma vez da disputa pelo Oscar de Melhor Filme em Língua Estrangeira -- concorria a uma vaga com "O Ano em que meus pais saíram de férias", de Cao Hamburguer. Uma pena, pois a Academia de Cinema de Hollywood fez uma seleção de peso em todas as categorias deste ano.

"No Country for Old Men", dos Irmãos Cohen, e "There Will Be Blood", de Paul Thomas Anderson, lideraram as indicações concorrendo em oito categorias cada um, incluindo Melhor Filme e Melhor Direção.

Também concorrendo a Melhor Filme está "Michael Clayton", um thriller a la anos 70 estrelado por George Clooney. O filme recebeu mais seis indicações, incluindo Melhor Ator (Clooney), e Melhor Atriz Coadjuvante (Tilda Swinton). "Desejo e Reparação" (Atonement), que venceu o Globo de Ouro, também ficou com sete indicações.


Diferentemente do ano passado, quando grandes produções como "The Departed" e "Dreamgirls" dominaram as indicações, o Oscar deste ano está marcado por filmes com temas mais soturnos e finais pouco convencionais. Prova disso foi que nenhum alcançou as bilheterias registradas na temporada passada.

Causou estranheza o fato de "American Gangster", o blockbuster da Universal Pictures estrelado por Denzel Washington, e "Into the Wild", dirigido por Sean Penn, ambos muito elogiados pela crítica, terem recebido apenas duas indicações.

"Juno" ganhou quatro indicações, incluindo Melhor Filme, Melhor Direção, Melhor Atriz e Melhor Roteiro Original.

A indicação óbvia, e o maior favorito deste ano, é Daniel Day-Lewis, por "There Will Be Blood", como Melhor Ator.


A cerimônia de premiação está marcada para o dia 24 de fevereiro. Se a greve dos roteiristas não causar problemas em Hollywood.

Abaixo a lista completa das indicações.

Melhor Filme:
“Atonement”
“Juno”
“Michael Clayton"
“No Country for Old Men”
“There Will Be Blood”

Melhor Atriz:
Cate Blanchett, por “Elizabeth: The Golden Age"
Julie Christie, por “Away from Her”
Marion Cotillard, por “La Vie en Rose”
Laura Linney, por “The Savages”
Ellen Page, por “Juno”

Melhor Ator:
George Clooney, por “Michael Clayton”
Daniel Day-Lewis, por “There Will Be Blood”
Johnny Depp, por “Sweeney Todd The Demon Barber of Fleet Street”
Tommy Lee Jones, por “In the Valley of Elah”
Viggo Mortensen, por “Eastern Promises”

Melhor Ator Coadjuvante:
Casey Affleck, por “The Assassination of Jesse James by the Coward Robert Ford”
Javier Bardem, por “No Country for Old Men”
Philip Seymour Hoffman, por “Charlie Wilson’s War”
Hal Holbrook, por “Into the Wild”
Tom Wilkinson, por “Michael Clayton”

Melhor Direção:
“The Diving Bell and the Butterfly”, Julian Schnabel
“Juno”, Jason Reitman
“Michael Clayton”, Tony Gilroy
“No Country for Old Men”, Joel Coen and Ethan Coen
“There Will Be Blood”, Paul Thomas Anderson

Melhor Atriz Coadjuvante:
Cate Blanchett, por “I’m Not There”
Ruby Dee, por “American Gangster”
Saoirse Ronan, por “Atonement”
Amy Ryan, por “Gone Baby Gone”
Tilda Swinton, por “Michael Clayton”

Melhor Roteiro Adaptado:
“Atonement”, Christopher Hampton
“Away from Her”, Sarah Polley
“The Diving Bell and the Butterfly”, Ronald Harwood
“No Country for Old Men”, Joel Coen & Ethan Coen
“There Will Be Blood”, Paul Thomas Anderson

Melhor Roteiro Original:
“Juno”, Diablo Cody
“Lars and the Real Girl”, Nancy Oliver
“Michael Clayton”, Tony Gilroy
“Ratatouille”, Jan Pinkava, Jim Capobianco e Brad Bird
“The Savages”, Tamara Jenkins

Melhor Filme de Animação:
“Persepolis”
“Ratatouille”
“Surf’s Up”

Melhor Filme em Língua Estrangeira:
“Beaufort”, Israel
“The Counterfeiters”, Áustria
“Katyn”, Polônia
“Mongol”, Cazaquistão
“12", Rússia

Melhor Direção de Arte:
“American Gangster”
“Atonement”
“The Golden Compass”
“Sweeney Todd The Demon Barber of Fleet Street”
“There Will Be Blood”

Melhor Fotografia:
“The Assassination of Jesse James by the Coward Robert Ford”
“The Diving Bell and the Butterfly”
“No Country for Old Men”
“There Will Be Blood”

Melhor Figurino:
“Across the Universe”
“Atonement”
“Elizabeth: The Golden Age”
“La Vie en Rose”
“Sweeney Todd The Demon Barber of Fleet Street”

Melhor Documentário:
“No End in Sight”, Charles Ferguson e Audrey Marrs
“Operation Homecoming: Writing the Wartime Experience”, Richard E. Robbins
“Sicko”, Michael Moore e Meghan O’Hara
“Taxi to the Dark Side”, Alex Gibney e Eva Orner
“War/Dance”, Andrea Nix Fine e Sean Fine

Melhor Documentário (curta metragem):
“Freeheld”, Cynthia Wade e Vanessa Roth
“La Corona (The Crown)”, Amanda Micheli e Isabel Vega
“Salim Baba”, Tim Sternberg e Francisco Bello
“Sari’s Mother”, James Longley

Melhor Edição:
“The Bourne Ultimatum”
“The Diving Bell and the Butterfly”
“Into the Wild”
“No Country for Old Men”
“There Will Be Blood”

Melhor Maquiagem:
“La Vie en Rose”
“Norbit”
“Pirates of the Caribbean: At World’s End”

Melhor Trilha Sonora Original:
“Atonement”
“The Kite Runner”
“Michael Clayton”
“Ratatouille”
“3:10 to Yuma”

Melhor Música Original:
“Falling Slowly” de “Once”
“Happy Working Song” de “Enchanted”
“Raise It Up” de “August Rush”
“So Close” de “Enchanted”
“That’s How You Know” de “Enchanted”

Melhor Curta de Animação:
“I Met the Walrus”
“Madame Tutli-Putli”
“My Love (Moya Lyubov)”
“Peter & the Wolf"

Melhor Curta Metragem:
“At Night”
“Il Supplente (The Substitute)”
“Le Mozart des Pickpockets (The Mozart of Pickpockets)”
“Tanghi Argentini”
“The Tonto Woman”

Melhor Edição de Som:
“The Bourne Ultimatum”
“No Country for Old Men”
“Ratatouille”
“There Will Be Blood”
“Transformers”

Melhor Mixagem de Som:
“The Bourne Ultimatum”
“No Country for Old Men”
“Ratatouille”
“3:10 to Yuma”
“Transformers”

Melhor Efeitos Visuais:
“The Golden Compass”
“Pirates of the Caribbean: At World’s End”
“Transformers”

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Desejo e Reparação (Joe Wright, UK/FRA, 2007)

Depois de receber o Globo de Ouro de melhor filme do ano, a adaptação do romance Reparação (Atonement), de Ian McEwan, foi nomeado para disputar nada menos do que 14 prêmios Bafta (o Oscar da British Academy of Film and Television Arts).

Ambientado no entre guerras -- um período por si só poético e dramático --, no interior de uma Inglaterra convulsionada e apegada ainda aos valores do século XIX, onde vestidos deveriam ser de seda pregueada e os cigarros, fumados com delicadas tragadas sensuais, a sensualidade é o cubo que move a roda desse drama. Não poderia ser diferente tendo Keira Knightley como protagonista. São a sensualidade e o tesão que irão demover os personagens de suas posições confortáveis para a fogueira dos erros e desgraças humanos.

Adaptações literárias são sempre difíceis (como já analisei em um post anterior). Mas o roteiro de Christopher Hampton é competente. Nada mais do que isso, para ser sincero. Ele valoriza a fotografia (cuidadosamente linda) e a interpretação dos atores, sem criar grandes exercícios fílmicos diferentes. Assim, apesar de muito bem feito e tecnicamente perfeito, Desejo e Reparação serve para o público conhecer um grande livro sem precisar ler suas 450 páginas. Como cinema, é raso.

Keira Knightley faz o papel de Cecilia Tallis, um garota rica do interior inglês que descobre o amor com e por Robbie (James McAvoy), filho de um dos empregados da propriedade de sua família. Soa bobo e previsível. E em grande medida pode parecer que você já viu essa história na última novela das sete da Globo. E é por aí mesmo.

O romance é espionado pela irmã mais nova de Cecilia, Briony (Saoirse Ronan -- se pronuncia Sircha), cuja imaturidade e língua grande vai jogar o casal numa convulsão familiar sem solução fácil.

Mas, de repente, nada mais importa, pois o mundo é lançado na Segunda Guerra Mundial. Essa mudança de foco entre o drama familiar e o épico histórico -- que no livro de McEwan leva mais de duzentas páginas para ser solucinada -- é caótica no roteiro de um filme de 130 minutos.

Como todo filme de guerra, há grandes e poderosas cenas. Mas o foco do filme não é esse. A beleza técnica das tomadas perde relevo diante do vazio da própria história.

Assim, Desejo e Reparação conta um drama sobre a culpa nas escolhas da vida e como o ser humano se esforça para buscar a redenção na nossa tragicamente imperfeita existência. Um tema complexo demais para ganhar relevo e profundidade em uma curta exposição. Um tema, sim, digno de um longo romance.

O filme vale a pena, mais uma vez, pela beleza plástica e por Keira Knightley. Mas, se você tiver tempo prefira o livro.

Preste atenção no delicado jogo de sons que é composto entre a música orquestral de piano e o som das máquinas de escrever de dois personagens (um escritor de teatro e um camponês). Isso é obra de Dario Marianelli que assina música do filme.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Persepolis (Vincent Paronnaud, FRA/EUA, 2007)

Rotular Persepolis de uma animação é reduzir o poder narrativo e artístico deste brilhante filme baseado no romance homônimo em quadrinhos de Marjane Satrapi. Dirigido pela própria Satrapi e por Vincent Paronnaud, o filme conta a juventude de Marjani em Teerã. Nascida em uma família de intelectuais de esquerda, que são oprimidos pelo regime ditatorial do Xá e, depois da Revolução Islâmica, pelos mulás que passam a governar o país, ela se torna adolescente e vai para o exílio em um ambiente de convulsão política e social.

Mas o enredo não se resume à crítica política, Marjani passa por desafios íntimos dentro da própria família, tendo a avó como pilar ético e humorístico da trama. Tudo isso amarrado com uma impressionante economia visual nas figuras humanas chapadas em preto e branco. Extremamente estilizado, Persepolis renova o dito de que menos é mais ao extrair da simplicidade gráfica um impacto narrativo incrível.

Se colocando contrária à intolerância em seu país e à superstição de sua religião, Marjane toma uma postura de desafio ao status quo. Mas a personagem não é uma heroína inabalável. Na verdade, o discurso político está bem reduzido dentro do visual simples e direto do filme, que trabalha mais com sentimentos do que com slogans.

No meio da violência que segue a Revolução Islâmica, Marjane é mandada pelos seus pais para a Áustria, para seguir estudando no exílio. Nesse momento o filme cresce em complexidade, quando somos forçados a ver a alienação estudantil e da esquerda austríaca em comparação com o ambiente de revolução que havíamos testemunhado em Teerã.

Solitária em um ambiente desconhecido, Marjane ingressa no movimento punk de Viena. Exemplo de contestação no Ocidente, a onda punk na Áustria é uma saída triste e insossa para as dúvidas de Marjane, que busca ali o niilismo de crítica à realidade que conheceu. Quando percebe esse contraste, a personagem irá se impor uma escolha única: ficar no exílio com liberdade cultural e conforto; ou abrir mão de sua individualidade para voltar à sua terra natal.

Mas nada de saídas fáceis e sentimentais para esse filme com visual tão fácil e sentimental. Nada de indulgência dramática nessa animação que parece ser tão pobre em meios como em soluções para as suas questões morais. Persepolis é forte exatamente onde poderia ser fraco: ele nunca é indulgente com as histórias que conta -- e chega a beirar a crueldade com sua protagonista.

Preste atenção em como são desenhados os prédios nas cidades em que se passa a história, Teerã e Viena. E nas vozes das três mulheres do filme, Marjane, sua mãe e sua avó, interpretadas em francês por Chiara Mastroianni, Catherine Deneuve e Danielle Darrieux, respectivamente.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

El Orfanato (Juan Antonio Bayona, MEX/ESP, 2007)

El Orfanato é daqueles filmes sobre os quais é muito difícil escrever, pois todas as revelações que pode-se fazer sobre a trama -- mesmo que inconscientemente -- podem tirar a graça da surpresa final. O filme de estréia do espanhol Juan Antonio Bayona bebe na fonte dos clássicos filmes de suspense e amarra o ambiente de terror com um roteiro inteligente que lembra os ótimos The Sixth Sense (M. Night Shyamalan, 1999) e The Others (Alejandro Amenábar, 2001). O filme tem um padrinho e tanto. Ele é apresentado e produzido por Guillermo Del Toro, de El Laberinto del fauno (2006) e Hellboy (2004).

O filme ganhou, entre outros prêmios, Melhor Filme e Melhor Diretor Revelação, no Festival de Barcelona.

El Orfanato consegue fazer uma coisa difícil para filmes de gênero: ele repete lugares-comuns e fórmulas prontas de uma forma fresca, que parece soar como novidade. Assim, quando somos surpreendidos com a imagem de uma criança que aparece subitamente no fundo de um corredor escuro vestida com uma roupa estranha, realmente apertamos mais firme o braço da poltrona ao invés de dar uma risada do tipo "oh-que-surpresa!".

"Um conto de amor. Uma história de terror." Essa é a tag do filme. Prova de que Bayona e o roteirista Sergio G. Sánchez não querem apenas dar sustos, mas atingir um alvo um pouco mais complexo. O filme conta a história de uma mulher (Belén Rueda) que decide voltar para a casa onde foi criada para transformá-la em um orfanato para crianças doentes. Seu filho adotivo, Simón (Roger Príncep), a acompanha e logo faz um amigo invisível. Tudo muito normal.

Pelo menos até que o amigo imaginário, Tomás, começa a atemorizar a família aparecendo com um saco que estopa apodrecido cobrindo a sua cabeça. Um dos fantasmas mirins mais assutadores já criados.

Preste atenção no uso magistral que Bayona faz do contraste entre claro e escuro para dar dramaticidade às cenas. E na atuação de Geraldine Chaplin como a assistente social esquisita e assustadora que surge no orfanato.