Como se isso fosse um assunto que interessasse a todo o mundo, Kohn entrevista longamente o administrador da fazenda, que nos revela toda uma ciência sobre formas de reprodução, benefícios genéticos e comparações entre raças de anfíbios.
Mas há um escândalo, uma denúncia. A verdadeira piscina de lama e sapos da qual o documentário quer realmente tratar.
Um corte abrupto nos faz viajar de Goiás, onde está localizada a fazenda, para São Paulo. Na maior cidade do Brasil, nós somos apresentados a um empresário que manda blindar os carros da família para se proteger da violência das ruas. Conhecemos rapidamente um promotor de Justiça, uma vítima de seqüestro e um policial durão. Mas até agora não sabemos o que está acontecendo, apesar de todas essas coisas soarem tão extravagantes aos olhos norte-americanos que já deveriam ter valido o documentário.
Mas Jason Kohn provou ser um estreante genial nesse filme. Ele consegue manter a audiência presa à história ao mesmo tempo em que vai criando um retrato sociológico amplo da sociedade brasileira.
Esse quadro vai aos poucos reconstruindo uma teoria do caos em que todas as peças apresentadas cumprem uma função. A fazenda de sapos prova ser a ponta de um sistema de lavagem de dinheiro público. Traficantes da favela contam suas histórias de como passaram do simples tráfico para crimes mais violentos -- como o seqüestro. Escalada de violência que contribui para o pânico generalizado que movimenta um mercado de segurança comandado pelos ricos personagens das cidades grandes.
Como toda essa história, Kohn levou o Grande Prêmio do Júri do Festival Sundance deste ano. E ainda ganhou o prêmio de melhor fotografia no mesmo festival.
Para o público brasileiro, acostumado a ver essas histórias serem contados diariamente nos telejornais, o documentário pode parecer naïve e até preconceituoso com um país pobre. Mas a formatação dada por Kohn cria um mural de correspondências que fascina mesmo a um jornalista e documentarista como eu. O que é mais bacana no filme é o bom-humor eterno da narrativa e da condução das entrevistas.
No final, Manda Bala é tão surpreeendente visual e narrativamente que soa como o que a revista Time Out New York chamou de "renascimento do documentário investigativo".
Quem tiver oportunidade de assistir à Manda Bala preste atenção na forma como Kohn intercala as histórias, como corta da fazenda de sapos para o lobby de um escritório fino em São Paulo. O intérprete usado por Kohn para entrevistar seus personagens sempre aparece em cena. Isso é uma homenagem de Kohn a seu mentor, o documentarista Errol Morris, que usou o mesmo recurso numa entrevista com Mikhail Gorbachev sobre os filmes preferidos dos ex-líder soviético.
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