segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Ainda por uma fatia maior

Para o presidente do sindicato dos roteiristas dos Estados Unidos (Writers Guild of America), Patric Verrone, a greve dos escritores de filmes e programas de televisão, desencadeada há quase dois meses, passou a ser uma luta não mais por dinheiro, mas por respeito.

Os roteiristas, segundo ele, estão tentando recuperar o status que foi perdido quando as grandes empresas tomaram conta da indústria de entretenimento. "Eu acho que se eles pudessem fazer filmes e séries sem nós, eles fariam, e assim tornariam o nosso trabalho cada vez mais mecânico e simples, com baixíssimo custo e sem arte", disse Verrone.

Os roteiristas pararam de trabalhar alegando que os estúdios não repassam ganhos obtidos com filmes e séries vendidos em DVD ou comercializados na internet. Os produtores dizem que os roteiristas estão pedindo uma fatia de um mercado que ainda não se tornou lucrativo e que por isso interrompem as negociações. Veja post anterior.

Com cinco semanas, a paralisação dos roteiristas já parece estar fadada a entrar em 2008 sem uma solução. Já se consideram como fatos dados que as temporadas de séries de sucesso como Two and a Half Men, Brothers and Sisters e Monk serão interrompidas temporariamente. Nos seus lugares, reprises e reality shows devem invadir as televisões dos norte-americanos depois do Ano Novo.

Os produtores consideram que todas as fórmulas de pagamento para os roteiristas sobre produtos de internet foram apresentadas e desconsideradas pela WGA. Segundo os produtores, não há como discutir ideologicamente com os roteiristas.

O que os produtores chamam de ideológico é o desejo dos roteiristas de estabelecer regras claras quanto a algumas questões financeiras: como um tipo de passe para quando projetos mudam de uma compania para outra; a eliminação da proibição para se organizar greves depois de acordos terem sido acertados entre estúdios e alguns roteiristas; e a separação clara em categorias dos roteiristas de TV, reality shows e cinema.

Os executivos de estúdios sabem que conceder essas mudanças de regra, mesmo que sem comprometer financeiramente os contratos, levará a uma mudança radical no poder da indústria do entretenimento.

Mas a principal alteração deve ficar por conta da indústria da televisão, que é muito mais sensível a uma parada como essa. Uma prática extremamente cara, mas comum nos Estados Unidos, é a dos conglomerados de TV produzirem quase metade de uma temporada de uma nova série com recursos próprios. E só depois disso apresentá-la para possíveis anunciantes. Como a indústria lá é muito bem azeitada, a coisa funciona. Mas sem poder produzir material novo, a prática deve ser alterada para alguma coisa mais parecida com o que acontece aqui no Brasil, em que o projeto só é tocado para diante depois do financiamento estar garantido.

O que é certo é que essa greve deve ainda se alongar muito em discussões financeiras e ideológicas.

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