quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Persepolis (Vincent Paronnaud, FRA/EUA, 2007)

Rotular Persepolis de uma animação é reduzir o poder narrativo e artístico deste brilhante filme baseado no romance homônimo em quadrinhos de Marjane Satrapi. Dirigido pela própria Satrapi e por Vincent Paronnaud, o filme conta a juventude de Marjani em Teerã. Nascida em uma família de intelectuais de esquerda, que são oprimidos pelo regime ditatorial do Xá e, depois da Revolução Islâmica, pelos mulás que passam a governar o país, ela se torna adolescente e vai para o exílio em um ambiente de convulsão política e social.

Mas o enredo não se resume à crítica política, Marjani passa por desafios íntimos dentro da própria família, tendo a avó como pilar ético e humorístico da trama. Tudo isso amarrado com uma impressionante economia visual nas figuras humanas chapadas em preto e branco. Extremamente estilizado, Persepolis renova o dito de que menos é mais ao extrair da simplicidade gráfica um impacto narrativo incrível.

Se colocando contrária à intolerância em seu país e à superstição de sua religião, Marjane toma uma postura de desafio ao status quo. Mas a personagem não é uma heroína inabalável. Na verdade, o discurso político está bem reduzido dentro do visual simples e direto do filme, que trabalha mais com sentimentos do que com slogans.

No meio da violência que segue a Revolução Islâmica, Marjane é mandada pelos seus pais para a Áustria, para seguir estudando no exílio. Nesse momento o filme cresce em complexidade, quando somos forçados a ver a alienação estudantil e da esquerda austríaca em comparação com o ambiente de revolução que havíamos testemunhado em Teerã.

Solitária em um ambiente desconhecido, Marjane ingressa no movimento punk de Viena. Exemplo de contestação no Ocidente, a onda punk na Áustria é uma saída triste e insossa para as dúvidas de Marjane, que busca ali o niilismo de crítica à realidade que conheceu. Quando percebe esse contraste, a personagem irá se impor uma escolha única: ficar no exílio com liberdade cultural e conforto; ou abrir mão de sua individualidade para voltar à sua terra natal.

Mas nada de saídas fáceis e sentimentais para esse filme com visual tão fácil e sentimental. Nada de indulgência dramática nessa animação que parece ser tão pobre em meios como em soluções para as suas questões morais. Persepolis é forte exatamente onde poderia ser fraco: ele nunca é indulgente com as histórias que conta -- e chega a beirar a crueldade com sua protagonista.

Preste atenção em como são desenhados os prédios nas cidades em que se passa a história, Teerã e Viena. E nas vozes das três mulheres do filme, Marjane, sua mãe e sua avó, interpretadas em francês por Chiara Mastroianni, Catherine Deneuve e Danielle Darrieux, respectivamente.

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