
Ambientado no entre guerras -- um período por si só poético e dramático --, no interior de uma Inglaterra convulsionada e apegada ainda aos valores do século XIX, onde vestidos deveriam ser de seda pregueada e os cigarros, fumados com delicadas tragadas sensuais, a sensualidade é o cubo que move a roda desse drama. Não poderia ser diferente tendo Keira Knightley como protagonista. São a sensualidade e o tesão que irão demover os personagens de suas posições confortáveis para a fogueira dos erros e desgraças humanos.
Adaptações literárias são sempre difíceis (como já analisei em um post anterior). Mas o roteiro de Christopher Hampton é competente. Nada mais do que isso, para ser sincero. Ele valoriza a fotografia (cuidadosamente linda) e a interpretação dos atores, sem criar grandes exercícios fílmicos diferentes. Assim, apesar de muito bem feito e tecnicamente perfeito, Desejo e Reparação serve para o público conhecer um grande livro sem precisar ler suas 450 páginas. Como cinema, é raso.
Keira Knightley faz o papel de Cecilia Tallis, um garota rica do interior inglês que descobre o amor com e por Robbie (James McAvoy), filho de um dos empregados da propriedade de sua família. Soa bobo e previsível. E em grande medida pode parecer que você já viu essa história na última novela das sete da Globo. E é por aí mesmo.
O romance é espionado pela irmã mais nova de Cecilia, Briony (Saoirse Ronan -- se pronuncia Sircha), cuja imaturidade e língua grande vai jogar o casal numa convulsão familiar sem solução fácil.
Mas, de repente, nada mais importa, pois o mundo é lançado na Segunda Guerra Mundial. Essa mudança de foco entre o drama familiar e o épico histórico -- que no livro de McEwan leva mais de duzentas páginas para ser solucinada -- é caótica no roteiro de um filme de 130 minutos.
Como todo filme de guerra, há grandes e poderosas cenas. Mas o foco do filme não é esse. A beleza técnica das tomadas perde relevo diante do vazio da própria história.
Assim, Desejo e Reparação conta um drama sobre a culpa nas escolhas da vida e como o ser humano se esforça para buscar a redenção na nossa tragicamente imperfeita existência. Um tema complexo demais para ganhar relevo e profundidade em uma curta exposição. Um tema, sim, digno de um longo romance.
O filme vale a pena, mais uma vez, pela beleza plástica e por Keira Knightley. Mas, se você tiver tempo prefira o livro.
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