segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Desejo e Reparação (Joe Wright, UK/FRA, 2007)

Depois de receber o Globo de Ouro de melhor filme do ano, a adaptação do romance Reparação (Atonement), de Ian McEwan, foi nomeado para disputar nada menos do que 14 prêmios Bafta (o Oscar da British Academy of Film and Television Arts).

Ambientado no entre guerras -- um período por si só poético e dramático --, no interior de uma Inglaterra convulsionada e apegada ainda aos valores do século XIX, onde vestidos deveriam ser de seda pregueada e os cigarros, fumados com delicadas tragadas sensuais, a sensualidade é o cubo que move a roda desse drama. Não poderia ser diferente tendo Keira Knightley como protagonista. São a sensualidade e o tesão que irão demover os personagens de suas posições confortáveis para a fogueira dos erros e desgraças humanos.

Adaptações literárias são sempre difíceis (como já analisei em um post anterior). Mas o roteiro de Christopher Hampton é competente. Nada mais do que isso, para ser sincero. Ele valoriza a fotografia (cuidadosamente linda) e a interpretação dos atores, sem criar grandes exercícios fílmicos diferentes. Assim, apesar de muito bem feito e tecnicamente perfeito, Desejo e Reparação serve para o público conhecer um grande livro sem precisar ler suas 450 páginas. Como cinema, é raso.

Keira Knightley faz o papel de Cecilia Tallis, um garota rica do interior inglês que descobre o amor com e por Robbie (James McAvoy), filho de um dos empregados da propriedade de sua família. Soa bobo e previsível. E em grande medida pode parecer que você já viu essa história na última novela das sete da Globo. E é por aí mesmo.

O romance é espionado pela irmã mais nova de Cecilia, Briony (Saoirse Ronan -- se pronuncia Sircha), cuja imaturidade e língua grande vai jogar o casal numa convulsão familiar sem solução fácil.

Mas, de repente, nada mais importa, pois o mundo é lançado na Segunda Guerra Mundial. Essa mudança de foco entre o drama familiar e o épico histórico -- que no livro de McEwan leva mais de duzentas páginas para ser solucinada -- é caótica no roteiro de um filme de 130 minutos.

Como todo filme de guerra, há grandes e poderosas cenas. Mas o foco do filme não é esse. A beleza técnica das tomadas perde relevo diante do vazio da própria história.

Assim, Desejo e Reparação conta um drama sobre a culpa nas escolhas da vida e como o ser humano se esforça para buscar a redenção na nossa tragicamente imperfeita existência. Um tema complexo demais para ganhar relevo e profundidade em uma curta exposição. Um tema, sim, digno de um longo romance.

O filme vale a pena, mais uma vez, pela beleza plástica e por Keira Knightley. Mas, se você tiver tempo prefira o livro.

Preste atenção no delicado jogo de sons que é composto entre a música orquestral de piano e o som das máquinas de escrever de dois personagens (um escritor de teatro e um camponês). Isso é obra de Dario Marianelli que assina música do filme.

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