terça-feira, 30 de outubro de 2007

Inspirações de Gus Van Sant

Gus Van Sant é um diretor capaz de extremos. Autor, com aura de independente, de Elephant (2003) e de Paranoid Park (2007, exibido na Mostra de Cinema de São Paulo). Ele também filmou grandes sucessos hollywoodianos como Good Will Hunting (1997) e Finding Forrester (2000). Nessa entrevista para a revista Slant, ele fala de inspiração no seu trabalho.

Slant: Você ainda está trabalhando na adaptação de Sarah, de J.T. Leroy?

Gus Van Sant: Não, não estou mais. Eu acho que o o cara que fez Secretary [Steven Shainberg] comprou os direitos. Quando me foram oferecidos os direitos, eu não tinha condições de arranjar o dinheiro que eu precisava. Eu queria juntar uns US$ 6 milhões, o que pode parecer muito para algumas pessoas e pouco para outras. De qualquer forma, eu nunca consegui juntar o dinheiro.

Slant: Qual é a sua experiência pessoal de fazer filmes?

Gus Van Sant: Eu acho que isso depende muito do projeto. Especificamente em Good Will Hunting (1997) [Uma Mente Brilhante] e Finding Forrester (2000) [Encontrando Forrester], eu fiz algo que nunca faria normalmente. Mas eu fiz para ver como seria fazê-los – apenas uma questão de curiosidade. Eles parecem “fáceis” filmes de Hollywood, mas os dois possuem algo de árido neles. Há uma certa honestidade, moralidade e verdade a respeito dos personagens. Mas eu ainda hoje não sei se consegui colocar isso de uma forma clara, pois sempre fiz filmes sobre anti-heróis.

Slant: Falando de anti-heróis, há um tema recorrente em todos os seus filmes: esses anti-heróis em perseguição obsessiva por objetos de afeição que estão sempre ligeiramente fora de alcance. Em Gerry (2002), os personagens estão procurando por algo, mas a gente nunca fica sabendo o que é.

Gus Van Sant: Eu sempre achei a “coisa” seria tipo um desenho rupestre em uma caverna, mas algumas pessoas pensam na “coisa” como algo existencial ou metafórico, assim a “coisa” passaria a significar muitas outras coisas diferentes. Mas os personagens estão em um ambiente selvagem e árido, então eu sempre presumi que eles estavam indo atrás de uma formação rochosa ou de uma caverna com desenhos antigos.

Slant: Bom, você está aberto para as leituras existenciais e metafóricas?

Gus Van Sant: Sim, pois a razão de eu a chamá-la de “coisa” é para deixar essa interpretação em aberto. Amarrar a interpretação no que eu acharia, teria tirado muito das possibilidades de leitura do filme.

Slant: Béla Tarr. Como você descobriu o trabalho dele?

Gus Van Sant: Eu nunca havia visto nenhum dos filmes dele, mas eu li uma crítica na Variety. Eles realmente tinham adorado o filme e ele era chamado de “um dos verdadeiros visionários trabalhando atualmente com cinema”. Era tudo que eu precisava ouvir. Scott Macaulay, que trabalha na Forensic Films, estava na minha casa e me disse que Sátántangó (1994) estava sendo exibido no BAM aquela semana. Era exatamente o que eu precisava ver naquele exato momento da minha vida. O filme também conjurou uma porção de coisas sobre as quais eu estava pensando já havia algum tempo e que me inspiravam, mas que eu nunca havia pensado em usar. E o filme usava à perfeição diversos desses elementos: o timing da história, principalmente. Quanto tempo pode-se levar para descrever algumas ações, que podem ser simples, mas que, por mais que se veja, mais elas ganham importância na história. Foi muito inspirador.

Slant: O que você acha de pessoas que saem da sala de cinema no meio do filme?

Gus Van Sant: Eu nunca vi isso acontecer, na verdade. Eu já vi gente deixando o cinema em projeções realmente muito longas. Acho que isso pode acontecer com qualquer filme longo, como Good Will Hunting [que tem 126 min.]. Em Sundance, o pessoal está assistindo a filmes com o intuito de comprá-los para distribuição. Às vezes, isso é só trabalho. Eles assistem, não gostam do início e passam adiante. Eles não estão olhando o filme como audiência, mas como compradores. Se eles estão procurando por uma coisa específica num filme, e não encontram, eles ficam furiosos.

Slant: Como é trabalhar com atores amadores?

Gus Van Sant: Bom, quando eu fiz Elephant (2003), sobre violência escolar em Portland, Oregon, eu escolhi trabalhar com atores não-profissionais. Há uma cena emblemática. Os personagens estão revelando filmes em bacias de plástico e uma garota pergunta para o cara onde as fotos foram tiradas. E, então, o personagem começa a falar com essa garota, que também tinha algumas fotos para serem reveladas. Eles estão realmente flertando um com o outro. Então, eu pedi para fazermos a cena de novo sem que eles falassem ou fossem tão charmosos propositadamente. No final, eu usei a primeira cena. Geralmente eu tenho melhores resultados com material que eu realmente dirijo. É como aquela máxima japonesa: “primeira idéia, melhor idéia”.

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