segunda-feira, 3 de março de 2008

Charlie Wilson's War (Mike Nichols, EUA, 2007)

Quando um cineasta escolhe, entre todos os outros temas possíveis, fazer um filme sobre política internacional e sobre uma guerra clandestina envolvendo Estados Unidos e União Soviética durante a Guerra Fria, ele pode ser tudo menos omisso e leviano.

É exatamente nesse ponto onde Mike Nichols peca em Charlie Wilson's War (traduzido nas telas brasileiras para Jogos do Poder).

Cineasta tarimbado e premiado, autor do clássico The Graduate, em 1967 (A Primeira Noite de um Homem), Nichols vive uma carreira inconstante. Esse filme, apesar de ter sido indicado ao Oscar ao lado de There Will Be Blood e No Country for Old Men, passa na média com ajuda do professor.

Tom Hanks é um congressista americano que nos é apresentado como um playboy refestelado em uma jacuzzi cercado por três prostitutas e com um copo de uísque na mão. Numa evolução radical de mais para ser verossímil, esse homem irá virar um estadista responsável pela construção da estratégia militar que derrotou a União Soviética no Afeganistão com dinheiro da CIA.

Onde está Ronald Regan no filme? Na verdade, para a audiência desavisada, parece que um congressista americano tem o poder de manipular US$ 500 milhões por vontade própria sem costuras de bastidor ou negociações mais complicadas do que um telefonema para um assessor.

O filme parece ganhar peso quando Israel e a Arábia Saudita entram no roteiro. (Como se sabe o investimento da CIA e a colaboração direta da Arábia Saudita no conflito afegão gerou nada mais nada menos do que Osama bin Laden.) Mas a esperança do filme ganhar um discurso mais adulto morre na cena seguinte, quando os chefes de Estado dão lugar para mais algumas piadinhas sem graça sobre a libertinagem dos congressistas americanos.

O que salva o filme e evita que ele seja uma bomba é o excelente Philip Seymour Hoffman. Ele encarna um agente da CIA frustrado e cançado da burocracia da agência que vê no personagem de Tom Hanks a possibilidade de derrotar os comunistas (sua maior motivação na vida). O personagem é o mais bem construído, com diálogos brilhantes e um sarcasmo que beira o shakespeariano.

Se todo o filme tivesse a energia e o cuidado de construção desse personagem, sem dúvida, seria uma grande obra. Mas não teve.

Nenhum comentário: