quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

A Vida dos Outros (Das Leben der Anderen, 06)

O filme de estréia do diretor alemão Florian Henckel von Donnersmarck fez muito mais do que ganhar o Oscar de Melhor filme em língua estrangeira. Ele conciliou, em uma história extremamente bem contada, suspense, melancolia, romance e uma crítica cáustica ao Estado policialesco e antiético da Alemanha Oriental comunista. O resultado pode ser conferido nas salas de São Paulo.

Até que ponto um homem correto pode ir no cumprimento de seu deveres? Essa é a questão central do filme que se amplia ao considerarmos o ambiente em que a história se passa. O capitão Gerd Wiesler (Ulrich Muhe) é um dos mais competentes oficiais da Stasi, a polícia secreta do Estado militar da Alemanha Oriental. O rigor visual e narrativo de von Donnersmarck nos leva a essa Alemanha comunista de 1984 (não por acaso o ano orwerlliano do Grande Irmão) para nos mostrar uma porção ainda obscura da História -- uma porção brutal, cruel e amoral fomentada pelo Estado comunista.

Wiesler recebe a missão de espionar Georg Dreyman (Sebastian Koch), um escritor de peças de teatro famoso. Ele consegue conciliar o respeito da comunidade artística e manter os bons favores do governo, realizando boas peças que agradam politicamente as autoridades. Ele vive com sua namorada, Christa-Maria Sieland (Martina Gedeck), sua atriz favorita. Os dois homens, um burocrata que valoriza a disciplina militar acima de tudo e um artista, são contrapontos perfeitos dentro do roteiro.

Wiesler é ordenado a espionar e encontrar provas de deslealdade ao Estado contra Dreyman. Isso porque seu superior, Minister Hempf (Thomas Thieme), quer motivos para destruí-lo devido a uma paixão por Christa-Maria. Durante essa investigação, nada de desabonador surge das gravações coordenadas por Wiesler. Como em The Conversation (Francis Ford Coppola, EUA, 1974), o espião se torna simpático às suas presas.

O desenrolar da trama toma contornos de thriller enquanto o cerco a Dreyman vai se fechando e Wiesler passa a tentar protegê-lo silenciosamente.

Preste atenção na beleza plástica das cenas dirigidas por von Donnersmarck. Ele consegue enquadrar o universo de seus personagens em planos simples e corretos, lembrando alguma coisa de Ettore Scola.

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